quarta-feira, 18 de maio de 2011

MITOLOGIA BANTU QUE INFLUENCIOU OS CULTOS AFRO BRASILEIROS



Capítulo do livro: África, mitos y leyendas - Alice Webner
Traduzido por Kota Mutarerê
1. Todos os grupos bantus crêm na sobrevivência da alma depois da morte. Além disso, crêm que o espírito do morto pode influenciar nos assuntos dos vivos. Se alguém fica doente, supõe-se que algum espírito foi ofendido e vinga-se mandando a doença, ou então que a pessoa se aborreceu com alguém provocando a inimizade e a
vingança. Em qualquer dessas situações o Adivinho deve consultar os Espíritos para saber quem é o responsável e qual o remédio que deve ser recomendado.
2. Em toda região bantu, de Angola e parte do sul do Zaire, acreditam-se que KALUNGA- NGOMBE é o Senhor da Morte. Está presente na Kimbanda brasileira com as mesmas funções e culto como fazem os Quimbandeiros africanos há muito tempo.
3. Atualmente na África, o culto a Kalunga pelos Quimbandas se denomina Quimbanguismo ou Quimbandismo. Na realidade a Quimbanda brasileira surgiu da Kimbanda africana que é um culto primitivo, ancestral. Todos os Ngangas e Kimbandas  africanos realizam rituais de sacrifícios de animais, entre eles: búfalos, bodes, galos, gatos e galinhas.
4. A grande maioria dos grupos bantus, acredita nos fantasmas familiares ou ancestrais divinizados (avós, mãe, tio etc.) aos quais chamam KUNGU (no singular) e MAKUNGU (no plural). Estes Espíritos perdem a sua individualidade com o tempo e entram para uma das classes de Espíritos chamada VINYAMBELA e MWENE MBAGO. Os Vinyambela são os espíritos das crianças e os Mwene Mbago são os dos adultos (Senhor e Senhora do bosque), sendo que estes espíritos têm mais poder do que os da corrente dos Makungu.
5. È fácil notar que a Umbanda tem a mesma base, acreditam nos Makungo, no Kungo de cuja palavra se originou a palavra CONGO que cognominou os “PRETOS VELHOS”. Daí em diante os pretos velhos (fantasmas familiares ou Makungo), foram chamados de “avô avó”,tio”, “pai”, etc . e logo perderam sua individualidade para fundir-se a um grupo que não tem nomes próprios e de uma maneira geral são chamados de “arranca toco”, “ogum”, “xangô”dependendo da linha prevista na organização umbandista.
6. Na África bantu os Espíritos vivem geralmente no monte sagrado, lugar onde são enterrados os mortos. As árvores desse monte nunca apodrecem e se protegem o quanto possível, pois dentro dessas árvores habitam espíritos poderosos. Ao pé das mesmas se encontram pontas de flechas, louças quebradas, enxadas velhas, etc. É assim desta forma que se marcam a tumba.
7. Segundo eles, os vivos não podem comer a comida dos mortos. Várias lendas bantas contam que a pessoa que entra no reino dos mortos, por acaso ou intencionalmente (para fazer algum ritual) é proibida de tocar em qualquer alimento que ali se encontre sob pena de ficar aprisionada alí para sempre. Isto é também uma regra dentro dos cultos afro brasileiros da Quimbanda; nunca se reparte a comida de uma mesa até não haver passado o Reino de Kalunga.
8. Grande parte das tribos é formada por clãs, que são associados a determinado Nkisi, e dizem pertencer à família deste Nkisi, para tanto, cada clã tem uma determinada proibição ou tabu que os bantus chamam de NZIO, MWIDZILO, KIZILA ou NZILA, de acordo com os dialetos. Pode ser uma proibição alimentícia com inclusão de algo
relacionado com a natureza: a água de chuva, a madeira, o fogo etc.
9. Na Quimbanda brasileira uma das kizilas é a água de chuva; nenhum quimbandeiro incorporado pode molhar-se com a água que cai do céu; segundo o mito bantu poderia até morrer.
A kizila de água de chuva é para o clã UWINGU (do céu), acreditam que a maioria dos Espíritos de Kimbanda pertenceria a esse clã.
10.Os Ngangas (chefes feiticeiros) são manifestados por deuses e espíritos de ancestrais poderosos e através destes, interpretam oráculos, curam, bebem, fumam e desta maneira, voltam momentaneamente à vida. Eles são os doutores de seu povo e
s
egundo os dialetos são chamados: SINGÁNGA, NGANGA ou MGANGA; INYANGA; WANGA.
11. Para que alguém se torne Nganga, deve ser formado por um Nganga profissional para quem trabalhará primeiro como aprendiz e assistente até que o seu mestre lhe considere devidamente qualificado.
12. Para tanto existem certos rituais de iniciação que devem ser seguidos.
Primeiramente devem passar por um período de isolamento no bosque (mato), em busca da manifestação por um determinado Espírito.
13.Acredita-se que no bosque vivem certos duendes que têm meio corpo e vão em grupos dando saltos em um pé só, outros têm apenas um olho, ou uma perna ou um braço. Conforme diz a cantiga:
"Eu fui no mato, oh nganga!
Cortar cipó, oh nganga!
Eu vi um bicho, oh nganga!
De um olho só, oh nganga!"
14. As vezes a pessoa pode ser manifestada por algum espírito, então adoece e tem visões. Esta pessoa deve ser tratada por ágüem já iniciado. Assim, a pessoa que teve contato com esses espíritos, é capaz de ver sempre duendes com apenas uma perna enquanto para outras pessoas eles são invisíveis; tais pessoas se transformam em
grande artista ou dançarino ou grandes compositores de canções especiais. São chamadas para cantar e dançar em funerais e outras cerimônias e quando são pagos, aí é que se esmeram no seu desempenho.
15. O transe é um fenômeno familiar entre os bantus. Os Ngangas (doutores) possuem essa capacidade e usando métodos que somente eles conhecem também o provocam em outras pessoas.
16. Atualmente em quase toda a África há uma crença muito fortemente arraigada de que as bruxas se divertem nas tumbas daqueles que acabam de morrer, desenterrando e reanimando o cadáver para depois matá-lo de novo, comer sua carne e alguns pedaços para usá-los como ingredientes de seus poderosos feitiços.
17. A famosa “gargalhada” que dão os Exus de Kimbanda, dentro da cultura banta eles se expressam com um longo grito durante as cerimônias ritualísticas.
18. As mulheres bantus podem chegar a ser rainhas, princesas ou feiticeiras, enfim todos os títulos importantes dentro da sociedade, e aquelas que os possuem gozam de certos privigios, como, por exemplo, ter vários maridos, os quais , neste caso passam a ser escravos.
19. Isto está muito claro na Kimbanda, onde Pambonjila tem um papel importante como feiticeira e rainha tendo ainda o privilégio de ter 7 maridos. No Brasil, esse costume foi mal interpretado e confundido com outros grupos de escravos de nações nas quais a mulher não podia desempenhar papeis importantes. Mais tarde, isto
acabaria equiparando Pambonjila a uma prostituta e não com uma rainha que possui um harém, coisa que para muitos inclusive hoje em dia é impossível.
20. Os bantus cultuam uma Entidade comparável ao Exu dos nagôs que se chama Aluvaiá, e pode apresentar-se como homem ou mulher, porque na realidade não tem sexo e se chama segundo as nações bantus: ALUVAIÁ, NKUVU-UNANA, JINI, CHIRUWI; MANGABAGABANA; KITUNUSI.
21. No Brasil o sincretismo entre nagôs e bantus, comparou o Exu dos nagôs a Aluvaiá dando-lhe uma dualidade sob o nome feminino de Pombagira e o nome masculino de Bombogira, sendo que para os bantus ele pode ter um desses nomes de acordo com a identidade masculina ou feminina que se apresenta.
22. Os pontos riscados com pemba e o uso de pólvora nos rituais, é de origem bantu, assim como também a utilização de álcool, querosene, bebidas destiladas; perfumes; todos esses elementos familiares para os bantus, foram trazidos pelos árabes para a África.
23. Quando na Kimbanda vemos o bom gosto pelo luxo pelos bons quadros, as jóias, adornos, etc. estamos vendo o que os negros apreciavam quando viviam em liberdade na África.
24. Apesar de muitos dizerem que os bantús não crêm nas forças da natureza, devemos esclarecer que eles crêem sim, porém acontece que estas não são incorporadas através do transe, e sim através dos Nkisis que por sua vez no dá suas mensagens através de seus mensageiros, os (ngangas).
25. A palavra Nkisi, literalmente significa "raiz", e é usada para designar grande parte das forças da natureza.
26. Na África encontramos sobre as forças da natureza, o seguinte:
• O RAIO e o TROVÃO são associados geralmente a dois gêmeos. Em algumas regiões o Raio tem a forma de um cachorro mágico que pode ser negro ou vermelho e se chama NZAZI. Quando cai na terra emite um latido - tá! - e com o segundo latido sobe novamente ao céu.
• Em outras partes o TROVÃO e a CHUVA se associam a um menino e uma menina, cujo nome é BULUNGWANA, se escuta trovões quando chove, e as pessoas dizem: “Os bulungwana estão jogando lá em cima”.
- O ARCO IRIS, é adorado sob a forma de uma grande SERPENTE que segundo os povos bantus, Luango, Bakimba e Mayombe, “surge das águas e se encarama na árvore mais alta quando quer parar a chuva”.
- O MAR é chamado NZAMBI KALUNGA e é também o maior Nkisi na hierarquia dos terreiros.
- A MORTE é associada ao BOSQUE e ao MAR. Ao bosque porque é o lugar onde se enterra o morto; e o mar porque para os povos bantus é uma imensidão desconhecida e aterradora. Além disso, durante muitos séculos eles viram desaparecer nele, os barcos carregados de escravos que nunca mais regressaram. A morte
personificada em KALUNGA NGOMBE significa literalmente “morte do gado”, isto é também devido as doenças e seqüelas trazidas por este personagem sinistro. Rei do mundo subterrâneo dos mortos, é equivalente a Xapanã , Obaluaié e Omolu dos nagôs.
- RYANG´OMBE é um personagem associado aos vulcões, guerreiro feroz, que porta uma espada sendo, entretanto muito justo e benfeitor!

COLETANEA TATA GONGOFILA

OS DEUSES NEGROS NO BRASIL


       
 Como já dissemos, foi para a Pajelança e o Catimbó, cultos basicamente indígenas, mas já miscigenados com elementos cristãos e católicos, que entrou o Negro ou o seu descendente, especialmente no Nordeste e se eles eram de origem Bantu, por encontrar nos acima citados cultos cerimônias até certo ponto bem análogas às de seus antepassados africanos.        
Os negros banto-congoleses aceitaram esta nova religião, sobretudo, em termos de "culto aos mortos", pois os Pajés e os Catimbozeiros, através dos Maracás e das Cunhãs, dos Encantados, do Petun e da Jurema, quiçá agora da Diamba introduzida pelos africanos, comunicavam-se com o Além, ou seja, o lugar místico e/ou mítico em que os brancos, os índios, os negros e os mestiços de todos, igualmente situavam a existência de seus antepassados.
        Sobre isso, diz-nos Roger Bastide (1971) : -"O bantu, passando à América, deixou atrás de si, além de seu território, os espíritos que o povoavam ... E chegando a uma nova terra que estava, ela também povoada de espíritos, devia ao mesmo tempo que era obrigado a aceitar o novo território em que devia viver, aceitar também forçosamente o seu duplo espiritual. Que as coisa assim se passaram, não quero por testemunho senão às próprias afirmações dos Negros do Catimbó : Agora somos brasileiros. Devemos adorar os deuses da nova pátria."-
   Depois, à medida que mais e mais negros de origem Bantu, sobretudo Congo e Angola alforriavam-se e reagrupavam-se na periferia das maiores cidades da época, eles mantiveram as partes dos rituais de seus antepassados que conseguiam por em prática dentro dos limites estreitos da escravidão, criando os primeiros Candombes, que é uma palavra de origem Bantu e não Iorubá, significando no Brasil, "instrumento de percussão" e/ou "lugar de danças de negros" e, por extensão, "lugar de terra batida por pés" ou "terreiro" onde praticavam seus cultos religiosos, os quais, sob a forma de cantos e danças - o Batuque - eram permitidos e até incentivados pelas autoridades na tentativa de contrapor-se ao "Banzo", tristeza depressiva que freqüentemente levava o escravo Banto à morte pelo suicídio e, também, para que tais manifestações que consideravam apenas lúdicas acirrassem as diferença s "tribais" entre as diversas variações étnicas africanas aqui escravizadas (Congo, Angola, Mina, Grunci, Galindas, etc). Mas, obtida a permissão de seus "senhores" para realizar tais "reuniões", os Bantos nelas inseriram as práticas religiosas para seus "M'inkisi" (plural de N'kis portuguesa gerou o termo "Inkices"), divindades equivalentes aos posteriores "Orixás" Sudaneses, acobertando-as com um mimetismo das práticas religiosas dos cristãos, mas incorporando, assim, o "poder místico" dos Santos Católicos que mais se aparentavam com suas práticas religiosas africanasi que em língua  E também enganaram-se as autoridades ao pensarem que o Candomblé ou Batuque poderia atiçar as velhas rivalidades tribais existentes desde a áfrica. Ao contrário, desde os seus primórdios, estes Candomblés incorporaram muitos dos Catimbó já mais africanizados, levando assim para o seu interior o sincretismo religioso católico-indígena que já se revelara útil como artifício de camuflagem para a celebração pública de suas reais práticas religiosas.
   Tornaram-se, também, as sementes dos futuros "Candomblés de Nação" que surgiriam mais tarde, pois, a partir do início do século XIX, quando a entrada maciça e em curto período de tempo de negros de origem sudanesa na Bahia e no Rio de Janeiro, suplantando todas as outras etnias, começou a crescer e evidenciar-se o prestígio ritualístico e litúrgico dos cultos religiosos sudaneses Iorubás ou Nàgôs, os quais interpenetraram e reinterpretaram os existentes Candombes de origem Bantu e, finalmente, impuseram-se, nas regiões próximas às cidades de Salvador (BA), Recife (PE) e Rio de Janeiro (DF) , por sobre todas as formas de culto em que participassem majoritariamente o Negro e seus descendentes.
        Que assim se passou, diz-nos Pierre Verger (1971) : "A palavra Candomblé, que designa na Bahia as religiões africanas em geral é de origem Bantu. é provável que as influências das religiões vindas de regiões da áfrica situadas nas imediações do Equador não se limitem apenas ao nome das cerimônias, mas tenham dado aos cultos gêges e nàgôs, na Bahia, uma forma que os diferencia, em certos pontos, dessas mesmas manifestações na áfrica."- Aportado ao Brasil muito tempo depois (fins do Séc. XVIII), o conhecimento espiritual dos descendentes da Nação Africana Sudanesa Yoruba também adotou a proteção da prática do Candomblé, reunindo os seus "Santos de Fora" aos "Santos de Dentro" num só lugar de culto: o "Terreiro-li-ese-orisa". Mas, diferentemente dos Bantos, os Nagôs Sudaneses usaram o sincretismo religioso de seus "Awon Orisa" (plural de "Orisa" que em nossa língua gerou o termo "Orixás"), com os Santos Católicos apenas como uma "fachada" ritualística, já que isto oferecia uma certa proteção contra o abuso de autoridades de então. Assim sendo, com o passar de mais de um século, esta nova ritualística dos descendentes da "Nação Yoruba", escravizados no Brasil, em vez de ser antagonizada pelas outras etnias negras, começou a servir de modelo e misturado ao anterior conhecimento espiritual da "Nação Banto" (Congo e Angola), dando origem aos Cultos Afro-Brasileiros conhecidos à partir de então sob a denominação genérica de "Terreiros de Candomblé", fossem qual fossem as suas origens.
    E já no final do século XIX, os cultos de origens Nações Bantu, Congo e Angola e, também, os cultos de origens indígenas, nas regiões da Bahia e Pernambuco, estavam submetidos às normas ritualísticas do Candomblé de Nação Sudanesa, mas não especificamente no restante do país, pois que só esta Nação Sudanesa conseguia revigorar sua crença através do animado tráfego comercial marítimo que se criou entre Salvador (Brasil) e Lagos (Onin - Nigéria) no início do século XIX
   Recentemente, de uns trinta anos para cá e já passada a necessidade do sincretismo religioso para sua sobrevivência, os Candomblés de Nação Sudanesa começam a reverter a tendência de simbiose com os outros cultos ao fecharem questão sobre a primazia de suas raízes étnicas sobre todas as outras, tornando-se assim uma religião exclusiva de um grupo étnico negro definido, isto é, Sudanês, mesmo quando o culto é praticado por negros de outras etnias, brancos, índios e mestiços de todos os matizes, tornando-se finalmente a celebração da memória coletiva africana sudanesa em solo brasileiro e que hoje rejeitam com veemência o sincretismo religioso que outrora praticaram para sobreviver.
        Como resultado desta inconteste hegemonia Sudanesa (Ijêxá, Kêtu, Òyó, Ifé e Benin - enfim, Nàgô) e sua posterior rejeição às outras correntes religiosas negras, surgiram os Candomblé de Nação Bantu e Angola que, por sua vez, expeliram de seu meio o elemento indígena que veio então a dar origem ao Candomblé de Caboclo e ao Omôlocô.
        Mas, esta anterior mixagem e/ou mimetismo de ritualísticas aparentemente semelhantes aos olhos da sociedade escravocrata brasileira, escondia diferenças profundas de Teogonia e Liturgia entre elas, as quais torna-se-iam mais evidentes quando cessou a perseguição médico-sanitarista e policial contra elas, mas já então a Ritualística de origem Sudanesa, bem ou mal, havia sobrepujado todas as de outras origens.E, como a etnia sudanesa conseguisse manter contato efetivo com suas origens africanas, através de animado tráfego marítimo entre Salvador e Lagos, cessada a necessidade da proteção do aparente sincretismo religioso, essa hegemonia ritualística iorubá sobre todas as outras ritualísticas fez com que os ritos de origem sudanesa se separassem definitivamente dos demais.  Desta forma, a instituição do Candomblé ainda hoje apresenta nítidas separações quanto às suas origens: O Candomblé de Nação Sudanesa, o Candomblé de Nação Angola e o Candomblé de Caboclo. Tendo alertado para estas reais diferenças existentes, próprias à cada "Nação", vamos adiante dissertar sucintamente sobre as "figuras", agora genéricas, do Orixás no "panorama", agora também genérico, dos "Terreiros de Candomblé", sem nenhuma ordem de grandeza especial, remarcando apenas as datas em que costumam hoje serem festejados. Não vamos aqui entrar em maiores detalhes sobre cada um deles, uma vez que tais detalhes são matéria restrita aos Cultos Afro-brasileiros e caberá aos ritualistas de cada "Nação", separar os "conceitos particulares" de seus Orisa, Vodun e Inkice.
        Aos leitores, cabe-nos lembrar ainda que se as nossas anotações parecerem demasiadamente sucintas é porque elas representam uma visão geral "desde fora" e conhecimentos mais completos e profundos só podem ser adquiridos através da "Iniciação" que cada Babalawo e/ou Iyalorisa, Tata de Inkice e/ou Mameto de Inkice, os/as Vodunsi sabem ensinar e transmitir: lamento, mas não se trata aqui de fornecer "iniciação" virtual.
Baba Oberefun Si Okojumide
COLETÂNIA TATA GONGOFILA

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A CULTURA DOS VODUNS


A palavra vodum é de origem Ewe/Fon (Jeje) e significa força divina, espírito, força espiritual. É usada pelo povo do oeste da África para designar os deuses e ancestrais divinizados.
No século XVIII o rei Agajá de Dahomé consolidou as crenças de vários clãs e aldeias, formando uma “sociedade espiritual dos Voduns”onde pessoas especiais eram preparadas para ler oráculos e fazer fórmulas mágicas usando elementos da flora, da fauna e do reino mineral.
Quando foi estabelecido o grande reino de Dahomé, lá não existia o culto de Voduns. Nessa época, o atual rei sentia a necessidade de uma assistência espiritual que o ajudasse a combater os problemas que atormentavam o seu reino e o seu povo. Solicitou, portanto, a presença de  um bokono (adivinho) e pediu que esse consultasse os oráculos.
A conselho dos oráculos mandou vir de diversas regiões os Voduns e construiu seus templos. Com isso Dahomé passou a sitiar diversos clãs e aldeias de Voduns. Anos mais tarde, o rei Agajá fez a consolidação, como já foi dito.
No período do tráfico negreiro, muitos daomeanos foram levados para o Novo Mundo e com eles a cultura e o rito dos Voduns.
Os Voduns cultuados no Brasil são originários da África, sua práticas e tradições se mantiveram intactas como era no Dahomé (hojel Benin) desde o começo dos tempos.
Com a escravidão, a nação Jeje sofreu baixa quanto a preservação de sua cultura. Os mais antigos preferiram levar para o túmulo seus conhecimentos a passá-los aos que poderiam perpetuar os Voduns no Brasil.
Dos filhos de Jeje que ficaram perdidos, sem conhecimento sobre Voduns, uns mudaram de nação e outros resolveram investigar, buscar, pesquisar suas origens, identidade e levantar a bandeira da nação.
Hoje, graças a essas pessoas, a nação Jeje voltou a crescer e a seguir a cultura que foi deixada pelos escravos. Hoje, encontramos kwes e pessoas que realmente sabem o Culto dos Voduns, esses aprenderam a passar seus conhecimentos e não deixar que sua cultura se perca.
E uma coisa que se deve aprender é a diferença entre Voduns e Orixás - Vodum é Vodum, Orixá é Orixá; Oya não é Vodum Jô. Aziri não é Oxum, Naetê não é Yemanja, etc.
Assim como na África, também no Brasil, os Orixás são cultuados dentro dos templos de Vodum, mas isso não os transforma em Voduns, eles são considerados deuses estrangeiros e são tão respeitados e venerados quanto os Voduns. Não existe discriminação nenhuma em relação aos dois tipos de divindades (Voduns/Orixás). Em templos de Orixás, também encontramos Voduns feitos, a única diferença é que no Jeje, não mudamos os nomes dos Orixás onde Oya, Yansã são conhecida exatamente como Oya, Yansã. Já os Voduns em templos de Orixás mudam de nome, por exemplo, Vodum Dan/Bessen recebe o nome de Oxumarê, Sakpata recebe o nome de Obaluaê, etc. Esse diferença também é registrada na Nigéria, então, não é “coisa de brasileiro”.
Os Voduns são agrupados por famílias; Savaluno, Dambirá, Davice, Hevioso; que se subdividem em linhagens.
A sociedade daomeana é patrilinear e polígena, isto é, dá-se por linha paterna; o homem é casado com diversas mulheres. A sociedade organiza-se em sibs, grupos de irmãos que têm a mesma mãe e o mesmo pai, sem base territorial própria e subdividem-se em famílias.
No Brasil, as casas de santo cultuam todas as famílias, porém, os Voduns são interligados entre si com comportamentos, costumes, gostos e atitudes sempre gerados pelo ancestre ou chefe de da casa.
O Brasil herdou vastos panteões de divindades que ficaram regionalizados de maneira que somente alguns Voduns tiveram domínio nacional.

postado por E. M. Nações Unidas
COLETÂNEA TATA GONGOFILA

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A morte segundo visão de algumas tribos bantu


A MORTE ( O KUFA)
A crença bantu numa vida futura aparece clara e firme.Vivem dependentes do mundo invisível e tem que se comportar com retidão para ganhar a companhia dos antepassados.Pois sem a convicção da sobrevivência pós-morte ficariam desmoronados os pilares da cultura bantu.
Nos túmulos pré-históricos se encontram restos de oferendas e sacrifícios aos antepassados.V~e com muita clareza que deve dar-se uma continuidade ontológica depois da morte. A vida palpitante em cada pessoa demostra e exige um caudal ancestral.
Não esperam encontra-se com Deus.por isso não anseiam por um céu,como também não temem um inferno.
Desconhecem a idéia de um juízo final,nada deve esperar ou temer de Nzambi.Parece que Nzambi terá ligado a retribuição as leis naturais da participação vital,que informa a ética.
Os castigos e recompensas recebem-se sobretudo nesta vida,e são enviados pelo mundo invisível.Sabe-se que os antepassados rejeitam os que infrigiram gravemente a ética tradicional.Possuem,pois,a noção de retribuição individual e adimitem a probabilidade de um juízo realizado pelos antepassados.
Acreditam na permanência de um princípio vital que perpetua a personalidade de cada Mutu(indivíduo) e origina uma nova maneira de ser e de existir.Ficam sempre ligado aos dois mundos porque este princípio existencial assegura a participação vital.
Todavia, falam de "Kùfá"(morte)quando o vumbi(defunto)não deixou descendência. Ninguém se recordará dele porque não há laço vital com nenhum vivo.não revive pela procriação,finalidade primária de sua existência.O antepassado possuirá tanto maior vigor,quantos mais descendentes deixou.
Como a Morte põe termo ao desejo inato de viver do existente-vivente,o bantu tentou solucionar assim o dilema:"Um homem desaparece como indivíduo,mas o seu existir de vivente continua na sua descendência".
Por isso o maior mal do homem é morrer sem descendência.
Fica privado do seu fim último: "O de existir como vivente nos seus descendentes".
Em certas tradições afirmam,que depois de um certo tempo,há uma seleção na aldeia dos mortos.É a segunda morte,aqueles que os parentes deixaram de oferecer sacrifícios,cuja recordação se apagou na memória dos homens e cujas obras não testemunham um passado glorioso,morrerão pela segunda vez e partirão para uma aldeia situada no mais profundo da terra...Não é um lugar de sofrimento.É um lugar de repouso para os "Antepassados Felizes",cuja massa anônima se desvanece a noite.
Quase todos os antepassados, decorridos duas a três gerações passam,como é natural,ao esquecimento.Segundo alguns, caiem num letargo do qual nunca mais sairão,embora não chegue ao aniquilamento.
Os antepassados são mantidos pujantes pelos sacrifícios,oferendas e recordação dos vivos.
Depois dos ritos fúnebres(NTAMBI/TAMBI), o vumbi(morto)não adquire uma situação definitiva,vai-se desenvolvendo um lento processo até que fica situado no estado de antepassado. Daí que fiquem nitidademente jerarquizados.
 
CULTURA TRADICIONAL BANTU
Pesquisado Por:Walter Nkosi
Coletanea Tata Gongofila

quinta-feira, 8 de abril de 2010

BANTO


Conjunto de populações da África sul-equatorial (com exceção dos bosquímanos e dos hotentotes), de línguas da mesma família, mas com traços culturais específicos (na África do Sul todos os povos negros são chamados banto, em oposição aos brancos, coloreds e asiáticos). Numerosos foi o contingente de escravos bantos trazidos para o Brasil. A influência por eles exercida sobre costumes, religião e superstições nacionais foi profunda e marcante. Trouxeram muitas lendas, mitos e tradições; sua contribuição folclórica e etnográfica frutificou e reforçou os elementos já existentes no Brasil, através de sua participação entusiástica e predileção viva pelo canto e dança coletivos. Os indígenas também possuíam esse encanto pelas danças de roda, instrumentos de sopro e cantos, mas o negro valorizou essas constantes no seio da sociedade em formação. Não é, pois, privativo e originário do africano tudo quanto recebemos por seu intermédio, mas indubitavelmente foi ele precursor mais poderoso e decisivo, depois do português. O nome bantos compreendia todos os negros africanos que outrora abasteciam o mercado de escravos do Brasil. Sua popularidade afirmou-se no século XVII, nas agremiações e irmandades de Nossa Senhora do Rosário, quando os negros passaram a tomar parte ativa nos autos populares. São bantos os préstitos do maracatu do carnaval pernambucano e as congadas vistas em todo o território brasileiro. A cuíca e o berimbau-de-barriga foram por eles trazidos da África; a capoeira, tanto quanto o complexo etnográfico do samba, também deve a eles sua difusão no Brasil. O ciclo do quibungo, circunscrito à zona litorânea da Bahia, é exemplo de sua contribuição à tradição oral brasileira.
Grande Enciclopédia Larousse Cultur

Os africanos de maioria bantu (durante os dois primeiros séculos do tráfico dos negros), largamente assentados na região nordeste do Brasil (Alagoas, Pernambuco, Maranhão), no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, utilizados na lavoura e pastoreio, pois já na África eram grandes criadores e cultivadores do solo, além de serem mestres na fundição de metais, influenciaram em todas as áreas a cultura do país nascente, que nascia sob o fertilizado solo regado pelo suor da pele negra, e sob a riqueza gerada pelos músculos africanos. Alguns historiadores defendem que os africanos que desembarcaram na Bahia eram da África sudanesa (Yorubás, dahomeanos, malês...), e que em muitas lutas de resistência se refugiavam em quilombos baianos. O que se tem certeza é que os primeiros a chegarem por aqui, quando a escravidão era mais desumana, foram os bantu.

Na religião não foi diferente. Influenciaram e foram influenciados. Ou conscientes, ou por aproximação de cultos e tradições, ou por necessidade de recriar seu universo mítico, se amalgamaram às novas experiências e resistiram aos valores religiosos dos escravizadores.

A própria concepção de Nzambi ou Nzambi-Mpungo para os bantu, a quem se chama, no Ocidente, Deus – Nzambi: o que fala; Nzambi-Mpungo (ou ainda Zambiapungo):

aquele que, por excelência, fala (Mpungu é uma ave que voa muito alto, fornecendo, deste modo, a derivação semântica de “maior”, “eminente”, “excelente”) Os bantos (bantu) são povos que habitam a África do Sul Equatorial. Falam dialetos diferentes (a língua é igual) e pertencem a etnias diferentes. Cerca de 274 dialetos e línguas são falados. A influência dos bantos invadiu a cultura brasileira, trazendo sua mitologia, culinária, religião além de elementos folclóricos como a congada, recordando a rainha Ginga de Angola; o maracatu de Cambinda Velha; a capoeira e o primitivo samba (semba).
Entre os grupos que se identificam nas “Nações” acima, temos as variantes que trafegam entre uma e outra, como, por exemplo, os que se identificam como “Nagô-Vodum”.

E a nação Angola/Angola-Congo ou Muxicongo, que tem como base lingüística o kimbundo e cultua Nkisi/Mukixi. Esta com seus ritos fundamentados nas tradições e cosmogonias mantidas a duras penas pelos antepassados bantu, vindos de muitos povos distintos como ngola, cambinda, lunda, makuá, kassange, essange, munjolo, rebolo, angico, e povos menores originários da contra-costa, além, é claro, da influencia de outros povos africanos, como os yorubás e ewe fom, formando assim tradições diferente, dentro do prórpio grupo conhecido como Candomblé de Angola, como Tumba Nsi, Tumba Junsara. Bate-Folha, Angolão, Angola Paketá, Kassange, Angola da Mariquinha e Goméia (que apesar de forte influencia yorubana, se identificava como angoleiro e seu fundador, o Sr. Joazinho da Goméia, foi considerado por muitos como o Rei do Candomblé no Rio de Janeiro).

COLETÂNEA TATA GONGOFILA