quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

LENDA DE NKICE KITEMBU - TEMPO



Kitembu
Houve uma época em que as diembu bantu (tribos bantu) sofreram com a morte principalmente de crianças, e as mulheres com hemorragia não conseguiam parir.
O sobá (rei) então procurou o nganga ua ngombo (adivinho) e sugeriu que fizesse uma consulta através do minenge wa ngombo (cesto da adivinhação) para saber o motivo daquele sofrimento.
Nganga então obteve a resposta, as tribos bantu estavam sendo atacadas por mbungula (espiritos trevosos) e que deveriam prestar culto ao nkisi kitembu (nkisi da hemorragia da vida e da evolução) para que a vida voltasse ao seu ciclo natural, e o sobá imediatamente reuniu todas as tribos bantu que fizeram grande oferenda ao nkisi kitembu e da terra brotou um pó branco “pemba” que até hoje podemos ver em barrancos.
Pemba é o espirito do grande pai de todas as tribos bantu “nkuku a lunga” e esfregaram ao corpo aquele pó branco ficando livre de qualquer maldade e assim o povo bantu cresceu por toda a áfrica, e em homenagem ao nkisi kitembu levantaram um mastro bem alto com uma bandeira branca na ponta simbolizando “pemba” que quando balança com o vento mostra a direção que o povo bantu deve seguir para não ter sofrimento. Kitembu é simbolizado por uma grelha (suplicio, sofrimento) uma escada (crescimento, evolução) uma seta que aponta o duilo (fazendo uma ligação entre o céu e a terra), um ancinho instrumento agrícola próprio para juntar palhas (restos do suplicio humano) cabaça (masculino e feminino como conta a criação).


Acreditamos, cá entre nós, que pelo que conta a lenda, é que no Candomblé assentamos Kitembu representado nos seguintes SIMBOLOS, cuja interpretação dos mesmos é simples e coerente com essa lenda ancestral.

• O MASTRO ALTO COM UMA SETA NA PONTA (simboliza a busca da comunicação entre a terra e o céu)... A ponta da seta significa a persistência da busca pelo infinito a dentro.
• Uma BANDEIRA BRANCA simboliza os BAKULO (espíritos dos nossos antepassados que intercedem e interferem a nosso favor). A cor branca simboliza a espiritualidade, a energia pura. A ponta da bandeira indica o caminho a seguir...
• A ESCADA simboliza que a evolução humana é Lei da Natureza. Tudo tem que evoluir, porque nós humanos somos fadados à perfeição. Portanto, sendo a Terra um planeta de provação o melhor a fazer é tentar ser sempre melhor do que nascemos. Isso vale para todos os aspectos existenciais.
• O FOGAREIRO é o fogo universal, a centelha divina que está em tudo, queimando... transformando...
• A GRELHA simboliza o sofrimento, o suplicio humano... Que o ser humano vem para ser “assado” numa grelha até se “transformar”
• O RASTELO, instrumento agrícola, próprio para juntar palhas, simboliza que o tempo arrasta tudo... Inclusive os suplícios humanos... ou arrasta o próprio ser humano...
• O CIRCULO onde as cabacinhas estão penduradas, simboliza o ciclo existencial... a Vida.
• A KALABASA (CABAÇA) simboliza o Universo infinito, limitado no símbolo, de onde teve origem tudo que foi gerado. Portanto simboliza o poder gerador MASCULINO e o FEMININO.

Existe uma lenda bantu que conta que tudo teve origem do “saco da criação”, chamado FUCUM... É fácil constatar que um saco tem a forma de uma cabaça.

COLETANEA DE TATA GONGOFILA

LENDA NKICE KATENDE


Katende, se me alimento é graças a você

Nzambi ampungu (deus poderoso) que tudo criou, um dia ao observar os montes, vales e aguas, sentiu um enorme vazio. Então mandou chamar nkuku-a-lunga e disse consulte o oráculo pois quero povoar a terra de homens e mulheres para que se multipliquem. Nkuku-a-lunga disse que para sobreviverem teriam que se alimentar, então nzambi ampungu pediu para nkuku-a-lunga ir ter com os Nkices qual deles saberia dizer o que seria dado aos homens para se alimentarem. Pambu njila (o senhor dos caminhos) disse que sabia e quando os homens chegaram para povoar o iungo (terra), pambu njila deu a eles madeira para comer, não demorou e logo os homens voltaram para duilo (céu) e disseram a nzambi que todos tinham morrido pois comeram madeira e as suas barrigas furaram. Então caiaia (senhora das águas do mar) disse que sabia como alimenta-los e retornando ao iungo os homens receberam menha fresca para beber mas em pouco tempo estavam de volta para duilo, nzambi perguntou o que aconteceu e os homens disseram que caiaia lhes deu tanta menha (água) que eles derreteram. Nzambi então disse oiué (assim seja) e tomou uma decisão, que os homens habitassem o iungo e só retornassem ao duilo depois de terem tido uma vida de alegrias e tranqüilidade deixando filhos e netos no iungo...

Nkuku-a-lunga consultou novamente o oráculo e falou a nzambi que no duilo havia um Nkice que se portava estranhamente carregando com sigo muitas cabaças contendo sementes e grãos. Nzambi chamou este Nkice a sua presença e disse a ele o que estava acontecendo e ordenou que semeasse o iungo, este Nkice que se portava estranhamente carregando cabaças começou a jogar as mesmas no iungo e delas se espalharam sementes e grãos, nasceram macunde (feijão), calosó (arroz), disá (milho) e lúmbua (cebola) filossu (legumes) e todo tipo de vegetação. Enquanto jogava as cabaças caiu e como um ser da terra sem pai nem mãe brotou entroncou e encheu de folhas, enquanto os homens povoavam o iungo em definitivo onde viveram felizes e tiveram muitos filhos...

Nzambi feliz então disse logo mandarei kiama (animais) e os seres humanos sacrificarão para todos os Nkices durante os ebós e compartilharemos o alimento com muito catulê (respeito) e nguzu (força).

Por este motivo que na áfrica o homem acorda pega um pedaço de pau chamado pako esfrega nos dentes substituindo a escova, depois enxágua a boca com água fresca e vai se alimentar chamando os Nkices para compartilhar da sua comida...

Puxa mas quem era aquele ser estranho que carregava cabaças e caiu no iungo?

Será que em nossas visitas as matas para colher unsaba zambiri (ervas sagradas) já colhemos folhas dele sem te-lo reconhecido?

Será que nos lembramos de fazer oferendas para aquele que soube como nos alimentar?

Será que respeitamos a sua morada?

Será que nos sentamos a sua sombra e nem percebemos que estávamos a seus pés?

Será que lembramos o seu nome?

Será? Será? Será?

Uma coisa é certa, ele continua nos alimentando, nos curando e como por encanto ele sempre está perto quando precisamos de uma boa sombra para descansar...

Ke ambote katende

Zambi a quatessá

COLETÂNEA TATA GONGOFILA