sábado, 18 de outubro de 2008

AXÉ FORÇA SAGRADA


AXÉ : FORÇA SAGRADA

Sacrifícios

Sacrifício não é sinônimo de assassinato, relacionado que está a rituais sagrados, visando, no candomblé , ampliar, acumular e distribuir a força vital e sagrada que é o axé. Boas partes das religiões utilizavam sacrifícios em seus rituais, mas na maioria das vezes com o sentido expiatório, não se aplicando essa noção ao candomblé por um motivo aparentemente simples: no candomblé não existi pecado, portanto não há o que expiar.

Entre os cristãos, por exemplo, a extinção do sacrifício (em termos reais) justifica-se pela morte de Jesus Cristo, que teria morrido para salvar a humanidade no mais importante sacrifício a que o mundo assistiu. Ocorre que Jesus morreu pelos cristãos e não pelo candomblé, e isso significa, na realidade, que os ritos processados em outra doutrina religiosa não fazem nenhum sentido para os orixás: da mesma forma que os rituais do Candomblé fogem à compreensão da Igreja católica. Em outras palavras, o Candomblé só se explica pelo Candomblé, não adiantando recorrer à Bíblia para explicar e muito menos condenar as praticas da religião dos orixás.

O sangue é de importância vital para os orixás, pois esta ligado à concepção à fertilidade, ao nascimento e a todas as etapas da vida. Sem sangue não há axé, ninguém nasce sem sangue. Quando deixar de haver sacrifícios, o candomblé deixará de existir.

Não se derrama o sangue dos animais por maldade, por crueldade, muito menos para fazer mal a alguém. O sacrifício é a condição para que a vida continue, e não apenas no candomblé. Todos se alimentam, seja de carne, seja de vegetal, e um boi só pode ser comido em bifes, ou seja em parte e depois de morto; uma alface, ao ser desconectada de sua raiz, também é morta. Por que não atribuir um significado religioso a um ato essencial para a sobrevivência humana? Será mesmo que condenação do candomblé se deve ao sacrifício? Não seria essa uma forma de a sociedade camuflar preconceitos mais profundos?

O ritual macabro não estão nos Candomblé e sim nos matadouros, onde os animais são submetidos a inúmeras crueldades e morre com muito sofrimento. Imagine um animal vivo tendo a sua pela arrancada: isso é um exemplo do que ocorre nos matadouros, é por isso que a carne que será consumida pelos iniciados deve ser sacralizada por meio de rituais específicos; a carne de um animal que morreu com sofrimento não faz bem a ninguém. Os judeus e os muçulmanos, por exemplo, só consomem carnes abatidos de acordo com seus preceitos. Porque o candomblé não pode fazer o mesmo?

É um absurdo acusar o Candomblé de fazer sacrifícios humanos, como têm feito certas igrejas. O Candomblé não é uma religião hipócrita e assume o que faz. São sacrificados, sim, bois, bodes, galinhas, patos e muitos outros animais, que depois servem de alimento á comunidade, mas nunca seres humanos, pois o orixá vive no homem e através do homem.

Todo homem sacrifica, não necessariamente num sentido religioso, e mata para sobreviver. Que mal pode haver em oferecer aos deuses as partes que os homens não consomem?

Lembre-se de que Jesus foi condenado á morte por pessoas que viviam a santificá-lo depois, fazendo o sinal da cruz, adorando a sua imagem ensangüentada. Pois que fique bem claro: não somos contra o homem Jesus, mas contra os homens que mataram Jesus. Nós não matamos nossos orixás, nós os amamos com todos os seus defeitos e qualidades.

Para o Candomblé, tudo que a natureza produz é sangue, pois o que define o sangue é a força de detém, ou seja, o axé e um sacrifício requerem a utilização de vários tipos de sangue, vindos das mais variadas fontes da natureza, atribuindo vida e sentido ao orixá, aos homens e á própria existência.

SANGUE VERMELHO

O sangue divide-se em três categorias: o vermelho, o preto e o branco, os elementos detentores de axé são encontrados no reinos animal, vegetal e mineral, configurando a parte material, visível e palpável da força vital.

O sangue vermelho do reino animal é representado pelo fluxo menstrual, pelo sangue dos animais e pelo sangue humano, portanto, todas as pessoas são portadoras de axé. No reino vegetal, o azeite de dendê, o osùn e o mel extraído das flores são os melhores exemplos. Os metais como o bronze e o cobre são portadores de sangue vermelho proveniente do reino mineral.

O sangue vermelho está mai diretamente relacionado às coisas quentes, ao movimento e ao fogo, razão pela qual os orixás que exigem uma quantidade maior desses elementos dominam exatamente esses aspectos da natureza, como Exu, Xangô e Iansã.

SANGUE PRETO

No reino animal, o sangue preto é encontrado principalmente nas cinzas dos animais sacrificados. Sendo a cor verde variação da cor preta, assim como o azul, o sumo das folhas, o pó azul chamado de waji e extraído das arvores, são os exemplos de sangue preto do reino vegetal. Já no reino mineral, encontramos o carvão e o ferro.

A esses elementos relacionam - se mas diretamente os orixás da terra, como Ogum, Oxossi, Ossaim, e muitos outros. Isso não quer dizer evidentemente que deuses ligados a outros elementos não os utilizem.

Porem, da mesma forma que a cor vermelhas e associada imediatamente ao fogo, o preto é associados à terra e o branco à água e ao ar.

SANGUE BRANCO

O sêmen, a saliva, o hálito, as secreções e o plasma são considerados os portadores de sangue do reino animal. O caracol sacrificado a Oxalá é um bom exemplo de um animal de ‘sangue branco’. O reino vegetal está no sul de plantas leitosas e nas bebidas alcoólicas extraída das Palmeiras e de outros vegetais, também esta no íyérosun (pó utilizado pelos babalaôs no opéle ifá ) e no orí (espécie de banha vegetal). No reino mineral temos o sal, o efós (espécie de giz)a prata e o chumbo.

Todos esses elementos são portadores de axé e combinados reforçam, ampliam e restabelecem a relação entre os homens e os deuses. O axé é uma força vital que pode ser acumulada, aumentada, e o sacrifico, com a utilização das mais variadas fontes de axé provenientes de todos os reinos da natureza, e que fortalece o poder dos orixás e dos Candomblés

No dia que o homem engolir uma galinha inteira, viva, sem tirar às penas, o sangue, as vísceras; No dia em que o parto não sangrar e a água não verter sobre a Terra, neste dia eu deixo de cortar para o Orixá.

Pai Cido

Trechos extraído do livro CANDOMBLÉ – A PANELA DO SEGREDO

COLETANEA TATA GONGOFILA.

0 comentários:

Postar um comentário

Em "comentar como" selecione "nome/url" e escreva seu nome.