Fernando Khouri
(Babalorixá Ala Igbin)
Crime e Castigo
Em um tempo anterior ao Cristianismo e mesmo ao judaísmo, enquanto Jeová era apenas mais um entre os deuses do deserto, a terra era habitada pela harmonia; o ser humano preocupava- se
Na África, o negro cultuava seus deuses, nascidos na divinização dos antepassados, livre da idéia de pecado e da divisão entre o bem e o mal.
Para eles – os negros-, os deuses e os homens eram constituídos de uma mesma idéia, que não era má e também não era boa.
Tudo era ambíguo, o mesmo homem que matava uma ovelha para comer salvava outra de ser picada por uma serpente. O mesmo Deus que mandava chuva, para regar as lavouras, também inundava os rios que desabrigava centenas ou milhares de negros.
O mal só passava a existir a partir do momento em que orí (a cabeça) dissesse que aquilo estava errado, ou seja, o homem era condenado por si mesmo, só ele podia julgar seus próprios atos. Assim era em todas as civilizações pré-judaicas – na Europa; na África, nas Américas, onde até hoje os aborígines pensam desta forma.
O pecado e seus possíveis castigos foram as armas encontradas por Moisés para controlar e guiar o povo judeu.
Como o resultado foi ótimo (para eles), a receita foi repetida pelo cristianismo, e deste se alastrou para muitos outros credos, contaminando até mesmo as culturas anteriores a esta invenção. Toda mentira, repetida mil vezes, torna-se uma verdade, por isto todos os dias nosso orí (cabeça) nos condena por crimes que não cometemos e vivemos torturados pela divisão que nos habita, entre o bem e o mal; entre o certo e o que os outros dizem ser errado. O pecado nos coloca à mercê da condenação por outro.
Não crendo em pecado, estou livre, até que orì me condene e sendo assim, posso viver plenamente e exatamente de acordo como o desejo dos Deuses.
Dentro do candomblé o pecado é a conciência de cada indivíduo.
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