quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

LENDA NKICE KATENDE


Katende, se me alimento é graças a você

Nzambi ampungu (deus poderoso) que tudo criou, um dia ao observar os montes, vales e aguas, sentiu um enorme vazio. Então mandou chamar nkuku-a-lunga e disse consulte o oráculo pois quero povoar a terra de homens e mulheres para que se multipliquem. Nkuku-a-lunga disse que para sobreviverem teriam que se alimentar, então nzambi ampungu pediu para nkuku-a-lunga ir ter com os Nkices qual deles saberia dizer o que seria dado aos homens para se alimentarem. Pambu njila (o senhor dos caminhos) disse que sabia e quando os homens chegaram para povoar o iungo (terra), pambu njila deu a eles madeira para comer, não demorou e logo os homens voltaram para duilo (céu) e disseram a nzambi que todos tinham morrido pois comeram madeira e as suas barrigas furaram. Então caiaia (senhora das águas do mar) disse que sabia como alimenta-los e retornando ao iungo os homens receberam menha fresca para beber mas em pouco tempo estavam de volta para duilo, nzambi perguntou o que aconteceu e os homens disseram que caiaia lhes deu tanta menha (água) que eles derreteram. Nzambi então disse oiué (assim seja) e tomou uma decisão, que os homens habitassem o iungo e só retornassem ao duilo depois de terem tido uma vida de alegrias e tranqüilidade deixando filhos e netos no iungo...

Nkuku-a-lunga consultou novamente o oráculo e falou a nzambi que no duilo havia um Nkice que se portava estranhamente carregando com sigo muitas cabaças contendo sementes e grãos. Nzambi chamou este Nkice a sua presença e disse a ele o que estava acontecendo e ordenou que semeasse o iungo, este Nkice que se portava estranhamente carregando cabaças começou a jogar as mesmas no iungo e delas se espalharam sementes e grãos, nasceram macunde (feijão), calosó (arroz), disá (milho) e lúmbua (cebola) filossu (legumes) e todo tipo de vegetação. Enquanto jogava as cabaças caiu e como um ser da terra sem pai nem mãe brotou entroncou e encheu de folhas, enquanto os homens povoavam o iungo em definitivo onde viveram felizes e tiveram muitos filhos...

Nzambi feliz então disse logo mandarei kiama (animais) e os seres humanos sacrificarão para todos os Nkices durante os ebós e compartilharemos o alimento com muito catulê (respeito) e nguzu (força).

Por este motivo que na áfrica o homem acorda pega um pedaço de pau chamado pako esfrega nos dentes substituindo a escova, depois enxágua a boca com água fresca e vai se alimentar chamando os Nkices para compartilhar da sua comida...

Puxa mas quem era aquele ser estranho que carregava cabaças e caiu no iungo?

Será que em nossas visitas as matas para colher unsaba zambiri (ervas sagradas) já colhemos folhas dele sem te-lo reconhecido?

Será que nos lembramos de fazer oferendas para aquele que soube como nos alimentar?

Será que respeitamos a sua morada?

Será que nos sentamos a sua sombra e nem percebemos que estávamos a seus pés?

Será que lembramos o seu nome?

Será? Será? Será?

Uma coisa é certa, ele continua nos alimentando, nos curando e como por encanto ele sempre está perto quando precisamos de uma boa sombra para descansar...

Ke ambote katende

Zambi a quatessá

COLETÂNEA TATA GONGOFILA

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