Kissimbe - Ndandalunda
Havia num lugar aí uma viúva que nunca amou. Casou-se sem conhecer o noivo, e enviuvou na mesma hora do casamento. Quando ouvia falar nestas coisas que fazem a gente se lembrar do que teve e não gostou ,entristecia.
Aconteceu que, por uma dessas da vida, apareceu-lhe um todo “suspiroso", ela sentiu tais coisas no coração que gostou dele. Era um homem alto, os braços compridos, quase tocando a terra, umas pernas parecendo de pau, uns olhos bem vermelhos. Dia para dia ele ia minguando, minguando, até ficar um anãozinho. E ela o queria sempre mais. E ele foi minguando, minguando, até ficar de um tamanhinho que ela já o guardava nos seios. Por fim, naquele lugarzinho tão feliz, ele minguou, minguou, e desapareceu. A moça ficou como louca. O seu chimbambinha!- e chorava desesperada.
(mas de tudo a gente se esquece neste mundo. O coração não fica velho para amar. E’ casa que não fica vazia).
Não demorou muito para aparecer outro, mas ela, volta e meia lastimava-se, chorando, do que havia desaparecido de seu seio. E olhava para o novo, vendo muitas vezes nele o mesmo que foi o coração dela. E por isso, começou a lhe querer bem. E quanto mais ela o amou, mais ele cresceu. Afinal de contas, de tanto bem que a moça devotou ao homem que era o retrato do primeiro, ele tanto cresceu que nem podia entrar na cubáta. E, por isso, já se encontravam da parte de fora. Ai ele cresceu ainda mais ligeiro. As conversas se tornaram a tal ponto difíceis que a moça sentava-se na palma da mão dele, contente de sua vida por ver que era o seu mesmo chibambinha que tinha voltado.
Aquele amor, diferente dos outros, não merecia a "carne". Chibamba que é o rei dos encantados encantou a moça. Colou as pernas dela e fez, da cintura para os pés, um meio corpo de peixe. Deixou-a mulher da cintura para cima. Cobriu-lhe o corpo todo de escamas de prata reluzentes. Os cabelos, dourou. E, chegando a praia chamou os peixes e disse as águas:
Esta é a rainha Kissimbe. Seu canto são as palavras de ternura que ele me disse. Na terra não pode viver:- os homens não sossegariam de persegui-la. Nas nuvens, também não:- os raios e os trovões a atordoariam. No céu, ainda menos:- os de lá ficariam malucos. Aqui, no meio de vocês, ela é rainha, a rainha das águas.
E entregou-a aos peixes que a levaram
(a lenda de Kissimbe é de uma poesia flagrante. O amor é a própria harmonia do ser. Novo ou ressuscitado sejam quais forem as circunstancias, cresce com o tempo e faz parte do próprio individuo para receber a imortalidade no esquecimento )
Conto Recolhido
COLETÂNEA TATA GONGOFILA
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