sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

MITOLOGIA BANTU



As referências dos Jinkisi/Akixi e algumas referências aos Orixás yorubá mais conhecidos, entendamos estas semelhanças como caminhos, e não como individualidades.

No Brasil os cultos que prevalecem nos candomblés Angola, Congo (com algumas variações de casa para casa ou de família para família de culto).

Os mais velhos trouxeram cantigas, rezas, tudo em kiimbundo ou kicongo (algumas também em Umbundo e outros dialetos). Muita coisa se perdeu até mesmo por haver a associação com as tradições Jejê Nagô, que foi em ultima instância prejudicial para as tradições bantu

Não que estas sejam mais certas ou mais erradas, mas que cada tradição deve ser mantida e respeitada, pois faz parte da história da própria humanidade, de como nos organizamos, como desenvolvemos outros falares, de como nos organizamos como sociedade, etc. e ao que parece, tínhamos um culto primitivo comum que com as distâncias das eras e também geográficas foi se modificando e incorporando novos elementos.

Acima de tudo está Nzambi Mpungu (um dos seus títulos) Deus criador de todas as coisas. Alguns povos bantu chamam Deus de Sukula outros de Kalunga e outros nomes ainda associam-se a estes.

O Culto a Nzambi não tem forma nem altar próprio. Só em situações extremas eles rezam e invocam Nzambi, geralmente fora das aldeias na beira de rios, embaixo de arvores ao redor de fogueiras Não tem representação física, pois os Bantu o concebe como o incriado, o que representa-lo seria um sacrilegio uma vez que Ele não tem forma.

No final de todo ritual Nzambi é louvado, pois Nzambi é o princípio e o fim de tudo.

Na Mitologia Bantu - Mpambu em kikongo significa (Encruzilhadas) e Njila (Caminho).

Pambu Njila é um Nkisi, nome pelo qual é conhecido o orixá Exu em candomblés de Nação Angola. Intermediário entre os seres humanos e o outros Nkisis.

É o Senhor dos caminhos e dos começos. Guardião das aldeias e que tinha seu culto geralmente nas suas entradas, tal qual o exú yorubá ou o Legbara Daomeano. Ou seja, o caminho é o mesmo, muda-se o nome, a língua, algumas tradições, mas a idéia é a mesma, assimila-se Exu com Pambu Njila, mas cada tradição mantém suas especificações, mesmo que troquem a lingua falada ou o nome.

Nkosi - é um Nkisi no candomblés de Nação Angola - Senhor dos Caminhos, das estradas de terra, tem semelhança com o Orixá Ogum do Candomblé Ketu

Na Mitologia Bantu - Hoxi Mukumbi / Nkosi Mukumbi - O leão. O devorador de almas, o guerreiro, o lutador, o forjador, o senhor do ferro. Ligado a causas sociais e de lutas. Dai associar este culto com o Ogum dos Yorubá não foi difícil, pois o caminho mitológico é o mesmo. Todo povo africano cultuava o ferreiro e o guerreiro divino.

Na Mitologia Bantu - Katendê é o Senhor das florestas e das Jinsaba (plural de Nsaba), as folhas sagradas. Senhor das alquimias divina. Senhor do retiro e da vida de ermitão nas florestas, às vezes também entendido como sendo uma Senhora, mas em geral mantém a idéia masculina. O caminho é o mesmo do Ossain dos Yorubá ou Agué dos Daomeanos. Então os mais velhos entenderam assim e trocavam um nome pelo outro.

Mutalambô ou Lambaranguange é um Nkisi caçador, que vive em florestas e montanhas, é o Nkisi da fartura e comida abundante, assim como Kabila. Equivalente ao Orixá Oxossi do Candomblé Ketu.

Na Mitologia Bantu - Tat'etu Mutakalambô ou Mutakulamburungunzo (o mais velho) - O Caçador divino. Todos os povos antigos tinham o seu caçador e defensor divino que era responsável pela fartura e pela defesa da aldeia.

O Caçador divino não é ninguém. Cada povo lhe entendeu de um jeito e lhe representou na sua cultura e na sua língua, mas faz parte do inconsciente coletivo de tempos imemoráveis.

Também andam neste caminho Nkongobila/Telekompenso. Estes caçadores bantu para se identificarem com qualquer outro caçador mitológico não foi difícil. Ai entra o Oxossi os Odé dos Yorubá e até os caçadores ancestrais brasileiros , como caboclos.

Na Mitologia Bantu - Nsumbu ou Kaviungo - Senhor da terra. Do chão. É um Nkisi Nsi. Tem caminhos com antepassados e une-se a eles para encaminha-los. É o senhor da ráfia (palha-da-costa) e das enfermidades. Como está no mesmo nível mitológico de Obaluaiyê/Omolu os mais velhos viram sua representação mitológica.

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Na Mitologia Bantu - Katendê é o Senhor das florestas e das Jinsaba (plural de Nsaba), as folhas sagradas. Senhor das alquimias divina. Senhor do retiro e da vida de ermitão nas florestas, às vezes também entendido como sendo uma Senhora, mas em geral mantém a idéia masculina. O caminho é o mesmo do Ossain dos Yorubá ou Agué dos Daomeanos. Então os mais velhos entenderam assim e trocavam um nome pelo outro.

Na Mitologia Bantu - Kindembu, Kitembo mais conhecido no Brasil como 'Tempo' - Ligado ao tempo cronológico e mitológico. O Nkisi das transformações o que guia o seu povo nômade através da sua bandeira branca, assim todos, por longe que esteja pode se unir ao líder, por que o mastro da sua bandeira é tão alto que pode ser visto de qualquer lugar. O que não deixa os caçadores perdidos (pois os Nkisis são, em sua natureza primeira todos caçadores e guerreiros, pois assim a aldeia e seus descendentes estariam garantidos). Nzara Ndembu (gloria ao tempo) ou Zaratempô. Ligado à ancestralidade, devido a sua ligação com Kaviungo . Este é o menos sincretizado, embora muitos o concebam como Irôko/Loko, da mitologia Jeje/Nagô.

É representado, nas casas Angola e Congo, por um mastro com uma bandeira branca, também chamada de Bandeira de Tempo.

Kitembo é um nkisi raro com poucos filhos. Associado com o Iroko Yorubá é também visto como a Gameleira Branca, árvore sagrada. O sociólogo Reginaldo Prandi (Mitologia dos Orixás, 1998) afirma que o fato de ser um inquice das florestas fizeram com que seu culto diminuisse e contribuisse para a diminuição do número de seus filhos de santo.

Kitembo é irmão de Kafundegi, Katendê e Hongolo, respectivamente associados com Obaluaiyê, Ossaim e Oxumarê. Segundo o candomblé Bantu, Kitembo tem uma forte ligação com Kafundegi, sendo que os filhos de Kitembo e deste Nkisi se parecem. Os quatro são os (inquices monstros), filhos imperfeitos de Nzumbarandá (associada com Nanã dos Yorubá) que foram depois recolhidos por NKaiala (Iemanjá) e encantados por Lembarenganga (Oxalá). Na Mitologia Bantu, Tat'etu Nzazi é o raio sagrado. Ligado à justiça, ao fogo e de natureza arrojada. Mitologicamente cavalga os céus com seus 12 cães (raios) e executa a justiça. Neste caminho também anda Sango dos Yorubás.

No candomblé Bantu, Nzazi e Loango são o próprio raio. Representam a união entre os dois mundos: o Ixi (a Terra) e o Duilo (o Céu). Sua ferramenta representa bem isso com duas cabaças unidas por um pedaço de bambu. É a própria representação do raio que num piscar de olhos cruza o céu eHongolo ou Angorô - É o Nkisi que auxilia a comunicação entre os seres humanos e as divindades. É um tipo de cobra e por ter um colorido em seu couro bastante característico e semelhante ao colorido do arco-íris sempre que aparece um arco-íris no céu os bantu saúdam Hongolo pois Ele está entre eles.

Na Mitologia Bantu Tat'etu Hongolo ou Angorô - É o arco-iris, ligado aos movimentos de subida e descida das águas. Também identifica-se com a cobra sagrada que aparece em todas as mitologias antigas.

Identificar este Mukixi/Nkisi com Bessém dos Daomeanos que algumas famílias de angola no Brasil cultuam como um Vodum mesmo, por herança, ou como Oxumarê dos Yorubás. hongolo lê (Arco-iris hoje) cai na terra transformando a matéria.

Na Mitologia Bantu - Mbambulucema, Bamburucema ou Matamba - Ligada aos ancestrais Yumbi Nvumbi e ao fogo, bem como aos fenômemos que vem no Duilo (céu), como tempestades, etc. É o caminho do Orixá Oyá do Candomblé Ketu.

Ndanda Lunda ou Dandalunda - é a Nkisi do Candomblé Bantu considerada a Senhora da fertilidade e da Lua, muito confundida com Hongolo e Kisimbi.

Ndandalunda - Nda - Senhora. Ndanda - Nobríssima senhora - Princesa, rainha, Senhora de grande prestígio, cultuada na terra dos Lundas. Senhora de riquezas ligada ao ouro e aos dengos femininos, bem como ao fertilidade e nascimento. Tem fortes ligações com Hongolo, devido ao movimento das águas. Não é nenhum sacrilégio identifica-la com a Ya Oxum dos Yorubá. Ndandalunda Kisimbi, Ndandalunda kia Maza. Neste caminho também está Kisimbi, como sra das águas doces.

Mikaia, Nkaia ou Kaia(la) - Senhora das águas. Nível mitológico das sereias. Das grandes mães mitológicas. Juntamente com Ndanda Lunda e Kisimbi se tornam a mãe d'água. Esta divindade é identificada com Iemanjá dos Yoruba. Andam neste caminho Nkukueto e até kissanga (que também é uma sereia).

Nzumbá - Senhora do roxo. Senhora dos antepassados mistérios antigos. Senhora muito similar em sua mitologia à Nanã Buruku. A mais antiga das mães. A mãe ancestral. A anterior a era dos metais e das grandes descobertas. Ligada ao culto da vida e da morte, por ser ela detentora destes segredos.

Nkasuté Lembá - Lembarenganga - O Senhor do Mulele Ndele (Pano branco). O Senhor ligado a criação. Embora também se manifeste como um guerreiro audaz (Nkasuté Lembá) traz em seu caminho a representação dos muitos tempos passados e eternos, pois se apoia em um cajado ritual, que significa que Ele merece respeito por ser o mais Nkakulu (velho). Saudação: Pembelê Lembá (Eu te saúdo Lembá).

WAPEDIA – COLETÂNEA DO TATA GONGOFILA.

A COMIDA DOS NKICES

A grande tradição das práticas Angola-Congo está situada especialmente, no candomblé bate-folha, Salvador, na roça onde as árvores sagradas de Zacaí e Upamzu recebem seus sacrifícios e alimentos, além de outras importantes práticas exclusivas dos preceitos desta nação em que se falam línguas Bantu.

Os pejis internos dedicados aos cultos dos Nkices recebem os preceitos do ritual Angola Congos e tem na culinária votiva momentos de destaque para a manutenção dos valores sagrados e sobrevivência de tradições especiais e voltadas à África.

A marcante influência iorubana não deixou de transpirar mesmo nas comunidades tradicionais que seguem outras práticas, como a Moxicongo e Jeje.

A importância de alimentar os Nkice e a fartura das comidas do cardápio ritual à assistência caracteriza as festas públicas do terreiro Bate-Folha, em sua sede, sem Salvador e no Rio de Janeiro.

O calendário é marcado por festas importantes como a kukuana, que é dedicada a Kanjanjá, sendo uma cerimônia similar a Olubajé das casas de Ketu.

Na Kukuana os alimentos de Kanjanjá também são servidos em folhas de mamona, que funcionam como recipientes para as variadas comidas que preparadas dentro do fundamento, irão agradar aos Nkices e à assistência, que participa do grande banquete sagrado. O cortejo com as muitas comidas retiradas do santuário chega ao local público onde culmina a Kukuana.

O feijão de Omolu, amendoim torrado, aberém, milho ralado com azeite-de-dendê, deburu e as outras comidas chegam ao barracão em cortejo solene e, geralmente. ao ar livre, é servido o banquete. Banhos de deburu acontecem, atuando como purificação mágica e limpeza ritual.

As festas das iabás, englobando todas as divindades caracterizadas como femininas, tem cerimônias comuns, incluindo-se sacrifícios, alimentação e danças rituais.

Mavambo pode receber todos os alimentos, tendo preferência pela farofa-de-dendê e pelo feijão torrado e moído. Colocam-se essas comidas em um utensílio, dividindo a metade com farofa de dendê e a outra metade com feijão preto torrado e moído. As carnes dos sacrifícios são oferecidas assadas, cozidas ou cruas, e Mavambo recebe outras farofas além da de aguardente

Mukumbe tem na raiz de inhame acará assado o prato de sua predileção. A raiz é cortada, colocando-se azeite-de-dendê, enfeitando-se com ponteiras de dendezeiro. Acarajé, feijão preto torrado farofa vermelha e milho vermelho cozido constituem os alimentos do Nkice da guerra e dos metais

Kabila come milho ralado com garapa; Kissimbi, omolocum; Bamburucena, o acarajé e o abará, além do acaçá vermelho servido a todas as iabás. Micaia come o ebô feito com milho de canjica e azeito doce, salsa e um pingo de azeite de dendê, além dos demais alimentos a base de milho e camarões com dendê.

A festa de Wungi – divindade situada ao mesmo nível dos Ibejis para os terreiros ketu – tem a cerimônia do caruru, onde são servidos todos os pratos comuns: acaçá, bolo de arroz, abará acarajé, deburu, vatapá, além de carnes das matanças preparadas no azeite-de-dendê com os condimentos característicos.

Kitempo – divindade marcante dos rituais Angola-Congo – é homenageado, recebendo os sacrifícios de galo, cabrito e deburu, além das bebidas. No assentamento externo do Kitempo, junto à arvore sagrada, onde acontecem as cerimônias.

Katendê se alimenta de feijão-fradinho torrado, além dos animais da matança, preparados com azeite-de-dendê. É um Nkice ligado às folhas litúrgicas e medicinais. Recebendo suas comidas em seu assentamento, quer geralmente é externo ao peji.

Lembá tem seus pratos preparados com ori e cebolas, não recebendo sal ou qualquer tempero de cor, e o dendê é tabu para os pratos desse Nkice. Acaçá branco, ebô, ibi, cabra, galinha branca e galinha d’angola, pata branca complementam o cardápio votivo que culmina no ciclo das águas.

Nas práticas do Bate-Folha, os preceitos Angola-Congo são guardados com rigor, seriedade e respeito aos Nkices e ancestrais.

Texto retirado do Livro SANTO TAMBÉM COME de Raul Lody

COLETÂNEA TATA GONGOFILA.