segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Banho de Pipoca


                    
     O motivo do banho é que quinta-feira, 17 de agosto, foi dia de São Roque, ou Obaluaê no candomblé.  O banho de pipoca acontece para pedir ou agradecer coisas boas que o santo protetor dos doentes fez para quem é devoto, e também para "limpar o corpo" de olho-gordo e de todo tipo de problema. Na Bahia, comemoram na igreja do Alto de São Lázaro. E comemoram juntos, católicos e os adeptos do candomblé.

Coletanea: Tata Gongofila

Qualidade de Aluvaiá

01.Nileodun; 02.Dundurê; 03.Meximaville; 04.Jamukangue; 05.Pambu-njila; 06.Uembesila; 07.Lajakala; 08.Uesaba; 09.Tambala; 10.Zunga Ao To; 11.Mukusete; 12.Tunde-Tunde; 13.Tundaé;



Como todo disco da TBS, muitos criticam a qualidade de áudio. E como sempre, nós dizemos que a TBS sempre fêz um bom trabalho de divulgação em suas produções que já se tornaram emblemáticas. Aproveitamos esta postagem - como sempre fazemos - para falarmos um pouco de nossa vivência com os cultos Angola/congo.



Muitos irmãos nos escrevem em PVT, ou nos perguntam na FTU - depois dos ritos - sobre as nações Bantu e os cultos Angola/Congo e mesmo Cabinda. A vivência que tivemos nesses cultos (além de informações familiares) foi feita com Mãe Maria Helena Batista (Taualuangi), que foi nossa mãe de santo antes de conhecermos Mestre Arapiagha. Ela foi feita no Omolokô mineiro, mas teve sua iniciação primeiramente na Angola por ancestralidade do Tumbensi e na Umbanda via terreiro do famoso Sr. Caboclo Inko, grande referência da Umbanda paulista nos anos 30/40.



Por isso apenas apresentaremos um estudo feito com base em nossa vivência sobre a religiosidade Bantu na África e suas decorrências no Brasil. Assim, pretendemos contribuir com o nosso passado para quem quiser saber destas informações, que evidentemente podem ser completadas e mesmo corrigidas por outros irmãos.



Na verdade são vivências que por nós estiveram “congeladas” por muitos anos até nosso mestre “retomar” algumas práticas rituais que são hoje realizadas na OICD e a ele agradecemos por validar essa nossa vivência em outras escolas com o sentido depurado de conexão mais lídima e sem conflito com as tradições que nos relacionamos hoje. Como o assunto é muito extenso, utilizaremos esta postagem para dividirmos um pouco nosso vivencial. Como todo conhecimento digno de lembrança aqui está somente um tanto de idéias daquilo que aprendemos nos outros. E por lembrarmos, deixamos a quem refletir, após a leitura, o passar adiante após uma importantíssima consulta nos nomes ao final do texto.
SOBRE AS LÍNGUAS BANTU
O termo Bantu foi utilizado pela primeira vez por Willelm Bleek, filólogo alemão, para caracterizar e definir as línguas africanas que utilizam a palavra “MU-NTU (pl. “BA-NTU”) para designar a pessoa humana. Nessas línguas, agrupadas sob o termo genérico “BA-NTU” o radical é “NTU” e o prefixo plural “BA” – Lembrando que “Ba” é utilizado como plural em várias línguas pré-históricas, pois “Ba” refere-se ao número 2 e possui a capacidade de duplicar a natureza do verbo e da ação. É por isso que, arqueometricamente, “BA” concentra em si o “Y”, dando, por exemplo, origem à lenda do “Beth-EL” em hebraico, como a Morada da Divindade.




Outros filólogos, como Joseph H. Greenberg (que foi o primeiro a identificar os limites dessa família, que ele chamou de línguas nigero-cordofanianas em seu livro Languages of Africa) e John Bendor-Samuel (que introduziu o nome nigero-congolês para toda a família, o qual está atualmente em uso até hoje entre os línguistas) após anos de estudo encontraram relações importantes entre os vários dialetos africanos. Um dos maiores avanços no estudo das línguas subsaarianas veio com o trabalho de Koelle, em sua obra “Polyglotta Africana” de 1854 onde tentou uma classificação cuidadosa em grupos, contribuindo em muito para a classificação moderna, embora o primeiro registro das línguas nigero-congolesas como uma família linguística pode ser encontrada no próprio Bleek (1856), que percebeu que as línguas atlânticas usam prefixos tal como muitas línguas do centro africano. Algumas décadas mais tarde, o trabalho comparativo de Meinhof, estabeleceu as características que reconhecem nas línguas Bantu uma unidade linguística.

As línguas Bantu constituem por volta de 500 línguas aparentadas, como demonstrou Meinhof, línguas essas faladas por povos negros que vivem na África sub-saariana e por ilhas culturais no sul da Índia (vejam texto sobre a Índia negra em nosso blogue). Compartilham de um tronco lingüístico comum, o Proto-Bantu. Assim, quando nos referimos aos Bantu, nos remetemos a povos e etnias cujas línguas têm um tronco comum e não a povos com traços raciais próximos. O que liga os Bantu entre si é uma língua oriunda do mesmo tronco e que são gramaticamente aparentadas, pois, em todas elas as palavras são agrupadas por classes em função de seu uso e natureza.

O universo Bantu ocupa grande parte do continente africano, do centro em direção ao sul, sendo uma família lingüística utilizada por milhares de falantes. Foram os Bakongos e os Ambundos os dois povos que vieram em número mais expressivo para o Brasil, e que aqui deixaram sua marca, assim como em toda a América, continente que ajudaram a construir. Eram numericamente superiores e por isso imprimiram suas características culturais a outros povos Bantu (como os Kassanje, Benguela, Moçambiques, Makuas, Kabindas, Munjolos etc) que chegavam em menor número.
Suas línguas eram o Kikongo e o Kimbundo, faladas respectivamente, pelos Bakongos (Bakongo = plural de kongo) e pelos Ambundos. Os Ambundos são o segundo maior grupo étnico de Angola e os Bakongos o terceiro. O primeiro grupo é o dos Ovimbundo e falam o Umbundo. No Brasil, principalmente no candomblé Congo-angola se faz ainda uso dessas línguas que vieram com os africanos. O Kikongo e o Kimbundo são as duas línguas mais usadas nos rituais e no cotidiano das casas de santo de raiz Congo-angola (a possível exceção seria a nação Cabinda no sul do país, mas a língua ritual que utilizam é o Yorubá de origem Ijexá). Atualmente são utilizadas como veículo de comunicação em Angola, nos dois Congos, e em países limítrofes.
Muitos dos africanos deste grupo quando aqui chegaram já vinham cristianizados, pois o contato deles com os portugueses aconteceu ainda no século XV. Alguns eram realmente convertidos, diferentemente de outros que eram católicos apenas por batismo obrigatório – prática usada no interior dos navios negreiros com anuência da igreja - mas muitos por devoção por terem se convertido ou pelo menos tido algum contato com o cristianismo em suas terras de origem, ou ainda em Portugal, onde havia também havia milhares de escravos e onde muitas manifestações culturais brasileiras tiveram origem, tais como as Congadas. Aqui estão as raízes do Omolokô: em Portugal e não no Brasil. Mas este é um outro assunto que por hora não abordaremos.
AS DIVINDADES PARTE 1
As divindades que chegaram ao Brasil são conhecidas como Bakissi (plural) ou Inquisse (singular). Há ainda algumas casas que os definem como Akixi ou Mukixi (mascarados), lembrando que nos cultos Bantu originais há a presença de máscaras rituais (bem diferentes dos cultos Yorubás) e de assentamentos e fundamentos feitos somente em barro ou madeira, já que a cultura religiosa Bantu (e mesmo a Yorubá) desconhecia a louça, que foi introduzida no culto – assim como as roupas de renda, inclusive nos cultos Gêge/Yorubanos – por influência cultural Européia. Enfim, temos o termo Akixi para os Ambundo e Nkisi para os Bakongo.



O Inkissi só recebe esse nome quando se particulariza no transe ou no assentamento, feito em um cesto ou em um boneco, em geral cheio de pregos (símbolo do poder coletivo da comunidade) e com a barriga furada onde são colocadas as ervas e o fundamento secreto de cada divindade. Antes desse processo de individualização, eles são chamados de Hamba, em seu estado não diferenciado.


Vários povos Bantu reconhecem em geral o culto ao Inquisse, aos Nkita e aos Simbi. Estes dois últimos referem-se a divindades terrestres (Nkita) e fluviais e marítimas (Simbi). As qualidades e funções desses espíritos, quase sempre protetores, varia de povo para povo, sendo que entre alguns o Nkita é sempre agressivo, enquanto que para outros a agressividade cabe ao Simbi. Para uns o Simbi é aquático e o Nkita terrestre ou vice-versa. Apenas para os três povos de Cabinda, cultuadores do Nkissi é que estes sempre são benéficos, com exceção do Nkondi e do Nkossi, que são por sua vez, utilizados pelos Bandoki para feitiçaria. Afora estes, todos tem o poder benevolente de curar, trazer prosperidade, colheitas fartas e chuvas benfazejas. Os Nkita, os Simbi e os NKissi fazem parte do cotidiano desses povos e os ajudam a vencer as batalhas do dia-a-dia.
Para os Bauoio (Woio, singular) os Simbi exercem um papel subalterno, pois são como crianças enviadas dos grandes espíritos da terra, os Bakissi ba si. Aí está uma das origens da ligação dos espíritos de crianças (os kafiotos, candengos ou monandengues na Angola que são confundidos com os Erês da nação Ketu, embora os Erês sejam uma categoria de divindades completamente dissociadas de todas as outras, que pouco tem a ver, como muitos pensam, com o orixá Ibeji) com as divindades fluviais e marítimas, como Dandalunda, Kaia, Kissimbi e outras.


O elemento principal da representação do Nkissi é uma pedra, retirada do leito de um rio, por pessoas em transe com o espírito. Essa pedra é, quase sempre, colocada num cesto, acompanhada de pemba, argila vermelha, pó de tacula e outras especiarias, tudo regado a vinho de palma e Menga quando a divindade assim o pedir.


Nas tradições do Palo Congo (Cuba) o Nkita é reconhecido e cultuado e no Haiti há o culto aos Simbi. No Brasil apenas o Nkissi é cultuado, sendo a única referência ao Nkita que conhecemos, são informações nos dada por Tata Tawá - quando o conhecemos no Alayandê Xirê - que é membro da tradicional casa do Bate-Folha de Salvador-Ba. O Simbi aparece em algumas cantigas, mas nem sempre é notado pela maioria dos fiéis e sua única ligação é com Kissimbe, um importante Nkissi das águas doces.
Assim os cultos Bantu podem ser definidos – imprecisamente, dada a grande variação religiosa e ritualística existente nesses inúmeros povos – da seguinte forma:


1) Zambiampungu, Nzamé, Zamby e outras centenas de designações, sempre com os radicais “Zam” (nas línguas antigas representa o Sol. Por ex: Sabeísmo, palavra persa surgida da raiz “ZAAB”, significando Deus, divindade, de onde provém todo saber) representando o Deus supremo;
2) Os Hamba (Ou Nkissi, quando individualizados), que são as grandes forças ctônicas, formadoras do universo;


3) Os espíritos elementais da natureza, como os Simbi e os Nkita, sendo os primeiros espíritos aquáticos e os segundos espíritos terrestres;
4) Os espíritos dos antepassados, tanto os bons (os Bakulu) quanto os maus, (os Matebo ou Nkuyu).


Os Inquisse se dividem em famílias, ou seja, não são agrupados em categorias de uma mesma divindade com várias características como acontece com as divindades Yorubá, ou como fazem os Fon, com seus reis divinizados. Assim, vamos encontrar várias divindades aparentadas, com culto e fundamentos específicos e diferenciados. Começaremos com as divindades dos caminhos e das encruzilhadas, que como verão, são várias. Lembrando novamente que estas são as divindades que conhecemos em nossa caminhada pessoal pelos terreiros que conhecemos e pela vivência com nossa primeira mãe de santo, Maria Helena Batista, que era feita em Angola aliado a nossos estudos sobre a religiosidade dos povos Bantu da África.


Por isso muitos destes Inquisses podem ter nomes derivativos da cultura Yorubá, pois como bem sabemos, o culto Angola/Congo tomou como matriz o formato de cultos yorubano e os adotou em seus ritos próprios, na verdade configurando as matrizes das genuínas manifestações religiosas brasileiras. Em outros discosde outras divindades continuaremos com as famílias de outros Bakisse...


Família das Divindades Das Encruzilhadas - Bakissi Da Ingestão E Restituição


Cor: cinza e o azul escuro (ou ainda o roxo) e em algumas tribos, o branco transparente, simbolizando a água (o vermelho e preto é uma influência dos ritos Nagô, não são cores deste Inquisse nos cultos Angola/Kongo em sua origem. Lembrando que há seguimentos da Umbanda – nossa escola mesmo (!) - que se utilizam destas cores para identificar os espíritos-guardiões)
Pambu Njila, Mpambu Njila, Bambogira, Kongogiro, Ganga Pambuguera, Pangira, Ungira, Ungila
Alguns autores – dentre eles Nei Lopes - registram e dão a sua origem como do Kikongo e do Kimbundo com ligeiras variações em seus nomes (provavelmente fruto da mistura de diversas etnias que pronunciavam de modo diferente um nome comum à mesma divindade), na África, no Brasil e em Cuba, no Haiti e em outros países americanos, como a Colômbia e a costa dos EUA. Na verdade, “Mpambu” tanto em Kimbundo quanto em Kikongo significa cruzamento, encruzilhada (sendo que, em Kikongo, há a tradução de “Mpambu” como portão, ou local fechado), e “Njila” significa rua, caminho.
Por extensão, atribui-se em Angola esse nome aos homens andarilhos, os “homens da rua”. O nome “Pomba-Gira” já possui uma relação mais complexa e profunda com o “Pambu Njila” Bantu, acrescido de outras informações que vão de mitos europeus, persas e até indígenas, que, se der, um dia coloco aqui. Sem nenhuma variação mítica, em todos os povos Bantu, a encruzilhada é o umbigo do mundo, o início dos tempos primordiais onde tudo teve começo, o ponto de onde surgem as quatro retas que constroem a encruzilhada. Nzambi criou o mundo a partir desta cruz e colocou Mpambu Njila como o senhor absoluto desses caminhos, fazendo-o segurar os quatro gomos principais do Ngombo (jogo divinatório Bantu, equivalente em importância ao Opón dos Sudaneses – para que Kukiakalunga (Uma emanação de Nzambi. Kukiakalunga é o “Pensador Angolano”, equivalente ao Orunmilá Yorubá) pudesse vaticinar os destinos do mundo. Mpambu Njila é o guardião por excelência.


Aluvaiá


Aluvaiá em Quicongo fonetiza-se “Alu-Vuya”. Algumas nações, como os Tio e os Shona fonetizam Alu, ou Lalu. É uma divindade do Congo. Nas casas Angola/Congo, normalmente as cantigas referentes à Aluvaiá são entoadas em português. É o Inquisse da herança espiritual, da continuidade dos valores. É a divindade que faz os acordos com o inimigo, se fazendo passar por ele, sendo um senhor da infiltração. É quem fecha os acordos e os favorecimentos no terreno da magia.


Mavambo, Mavangu, Marambo, Marabu, Malagô, Navango, Igo Mavan, Marabô, Jiramavambo


O Senhor do Barro, o Conquistador! Nascido dos sonhos de Nkoce. Quando em suas andanças, Nkoce parava para dormir nascia um montículo de barro onde Nkoce colocava sua cabeça. Pela manhã, nesse monte, a cada dia nascia um Mavambo, para vigiar os caminhos dominados pelo vencedor dos Leões. Em várias regiões da África, os muçulmanos eram chamados de Marabu, em alusão ao fato de terem sido conquistadores em várias partes do continente. Há ainda, o termo Barabô, numa clara fusão do Jeje e do Cabinda nos terreiros do sul do país.
Sinzamuzila
O Inquisse que recebe o poder das bebidas que são colocadas na casa de fundamento e nas tronqueiras. Aquele que é sempre seco e que recebe a “Marafa” na cuia de cabaça no ritual propiciatório das escolas Congo/Angola, quando se envia o Sinzamuzilla para a porta. Do quikongo “Sanzala”, bêbado, trôpego.


Malungo
O Inquisse que acompanha as pessoas durante toda a vida. Aquele que envia seus “fantasmas de proteção” (Zumbikukulu) para acobertar quem entra e sai do terreiro, quem nos protege da morte; Aquele que livra do sofrimento. Entre os Lundakioko, “Ma-lunga” homem, amigo etc. Do Kikongo “Lungo” (Ma-lungo, plural), morte, dificuldade.
Jujuku
Aquele que faz magia de morte. Ainda que a palavra “Jujuku” seja uma palavra provavelmente Yorubá (“Juju” = magia com objetos; + “Iku” = morte) que deve ter sido aprendida pelos descendentes Bakongo, este Inquisse é utilizado para feitiços e para tormentos onde são usadas coisas pessoais daquele que se pretende agredir magisticamente.
Kijanjá, Kujanjo
Inquisse da matança e da Lua. É aquele que recebe as oferendas de todos os outros Inquisse e faz a transmissão do poder das oferendas a todos do terreiro. Por isso as matanças são feitas com os animais em ciclos que obedecem às fases lunares. Do Proto-Bantu “Kijan”, Lua, usado ainda hoje pelos jongueiros do Brasil como “Quijama”.
Mavilutango
O Inquisse da dança e do movimento, dizem as lendas que ele é que dá ao ser humano, através da dança, a capacidade de se relacionar com o mundo, com os vivos e os mortos. Por isso é ele quem se encarrega de levar o “Padê”. A palavra “Tango” vem do quibundo “Tangu”, significando pernada. A dança argentina de mesmo nome provém dessa mesma raiz Bantu, cujas origens foram praticamente esquecidas por lá.
Burungangi
Inquisse dos Bakongos, conhecido como “Mbulu” ou “Mbulunganga”. Há uma expressão em Bakongo que significa “Grande força” (Mbulu-nguzu, embora esta palavra se relacione mais com o Inquisse Burugunzo). É aquele que acompanha Biolê e é assentado nos trilhos e nas ferrovias. Nesse caso, este Jila descreve-se como “Mbulu-Nganga”, “Poder do Ferro”. A palavra “Nganga” aponta para termos Bantu relacionados a “derreter”, tais como o quicongo “Kanga” ou o Quioco “Nganga” (metal fundido), e finalmente ao Bantu genérico “Ngangula” (ferreiro). Associa-se ainda, ao Bantu multilingüistico “Nganga”, significando feiticeiro.
Bionatan
Inquisse patrono da alegria. Recebe doces e flores. Algumas traduções do Quimbundo indicam essa palavra como “risada”, bem ao estilo dos Njila. Mas há ainda, traduções do Quicongo: “Mbyantunda”; “Ntunda” – Monte, colina; “Mbya” – coquinho de palmeira, talvez uma aproximação deste Inquisse com o Exu yorubano nas questões dos métodos divinatórios.
Sigatana, Singangara, Siganga, Gangaiô
“Singa” – nome que se dá à vara do canoeiro. No quicongo “Sinda”, se traduz como ir ao fundo d’água; no umbundo “Sinda” refere-se ao ato de empurrar associado ao multi-Bantu “Nganga” – feiticeiro, traduz-se aproximadamente como o feiticeiro que habita o fundo das águas. De fato esse Njila associa-se a Zumbarandá e Kissimbi nos assentamentos destes outros MiInquisse. É invocado simbolizada pelo egan (gorrinho em forma de cone), e pela pena vermelha do papagaio.
Tibiriri, Tonã
Encontra-se menção a este Inquisse nos rituais Angola, embora seja óbvia a sua relação com o Tiriri dos Yorubá: “Ti” – Grande Força; “Riri” – Valor, traduz-se como “Valoroso”. Igualmente Tonã parece relacionar-se com o Lonã (Caminho) Yorubá. Resta descobrir se houve uma aculturação do Nagô sobre os rituais Congo/Angola, ou se na própria África essa divindade se espalhou por várias regiões. Há ainda a o termo Tupi Tiriri (nome de uma ilha), originado de su-y-ry-ry, que significa "pássaro que faz barulho”. Interessante é que em alguns totens deste Inquisse há um pássaro esculpido e ainda, na Umbanda, Tiriri é o guardião de Yori/Ibeji/Oxum (yabá dona de um pássaro), cujo sinal cabalístico de pemba representa hieraticamente, um pássaro. E, finalmente, encontramos na Cabala hebraica o termo “Tirirel” como o demônio guardião de mercúrio (planeta de Yori). Vai saber...
Ngambe, Ingambeiro, Engambeiro
O termo engambeiro ou engambelo é comumente usado pelo Povo-de-Santo como verbo, na flexão engambelar, o que aproxima este Inquisse da representação de Trickster do Exu yorubano. No Umbundo diz-se “Uyambelo” como o presente que se dá ao curandeiro, o que originou, possivelmente a palavra engambelar - de uso nos terreiros quando se dá uma oferenda de paliativo ao “santo” até que se possa dar outra melhor. O povo Ganguela diz “ndambelo” como aquela porção que se dá a mais do que se promete como “agrado” em troca de um favor. Os Soto dizem “Kabelo” com o sentido de contribuição. Ngambe é o nome de um Inquisse onde em sua barriga colocam-se moedas, notas (na antiga África usava-se búzios, marfim e cobre) e outros objetos de valor.
Etajelungi
Mais um Njila que nos parece uma somatória brasileira do fundamento das qualidades de Exu com o de algum Inquisse Congo. “Etá” em quicongo traduz-se como pênis ou como qualquer objeto que lembre o falo. É acrescido, talvez da palavra yorubana “Ijélu” – “I” – (Aquele que); “jê” (é); “Elú” (Índigo, a planta que produz a tinta chamada “Arô” para fazer o “Wáji”, que representa o preto nas pinturas rituais. Entre os Bakongo a representação do falo de alguns Njila é pintada com a cor azul, assim como dissemos na abertura, sobre os Pambu Njila e a influência ritual Yorubá.
Korobo
O Pambu da folha, espécie de “Aroni” angolano, portador da enxada, foi quem ensinou os homens a plantar. É o guardião da “Kisaba Kiasambuka” do Inquisse Katendê. Em quicongo encontramos a palavra “Kulumba”, como “homem rude do mato”, que vaga pelas estradas e “Kuluba” como “enxada velha”.
Niquerô
Inquisse que recebe as oferendas dos Minquisse caçadores. O guardião da fartura e da distribuição de força vital para o terreiro. Em quicongo, “Ndiiki”, aquele que alimenta.
Dundo Salunga, Dundo Calunga
Inquisse do mistério, Pambu do silêncio, o grande peixe que leva as pessoas para o infinito. Sua representação é a de um peixe de madeira onde se colocam mensagens e objetos para os que se foram. Dundo em quicongo é “Ndundu” e refere-se ao peixe Seese. Calunga vem do termo multilingüístico Bantu “Kalunga” que traduz a idéia de grandeza, eternidade, vastidão. Pode ser tanto identificado com o céu e o espaço infinito como com o mar. Kukiakalunga é o Inquisse pensador dos Angolanos (do verbo “Oku-Lunga” – ser esperto), o patrono do jogo Ngombo. No Brasil o termo se ligou ao cemitério e à morte, pois muitos escravos morriam no mar antes de aqui chegarem, embora a idéia de eternidade ainda assim, tenha relação com o local onde habitam os mortos
Naban, Nabondo
Inquisse guardião das árvores. Representado por um pássaro (!). Conforme o quikongo “Na-mbondo”, uma árvore, o embondeiro. Divide seus poderes com Nkondi – Inquisse da família de Nkoce - esta árvore é cultuada principalmente para o feitiço. O embondeiro tem forma de garrafão, e é chamado de “Nkondo Ikuta Mvumbi” (Embondeiro do morto gordo), por que a pessoa contra quem se faça o feitiço, contra quem se prega o prego, morrerá gordo, inchado como o embondeiro. Conforme o prego usado, o efeito, segundo o povo de Cabinda, será mais ou menos imediato, se for de ferro, de cobre ou de alumínio.
Ingué, Izangué, Yanga
Entre os Tchokwe encontramos a divindade Yanga, fonetizada como Yangue em outras tribos do norte de Angola. A lembrança da relação do nome com o Exu Yangi dos Yorubanos é inevitável. No Brasil e em Angola Ingué e Yanga compactuam do fato de não beberem cachaça nem dendê. Veste-se de branco. Na África, como no Brasil, quando está possuindo alguém, não come nada vermelho.
Malusibango
Encontra-se referências rituais de um Inquisse da fortuna em Angola, chamado “Luo-Mbangu”. E encontramos a palavra “Mbangu” em quicongo significando “benesses” ou “ganho”.
Apavenã
É o senhor das oferendas, o portador e o mensageiro. É sempre o primeiro a ser invocado. É o dono do dendê, por isso o carrega na peneira, segundo dizem...
Imbeberiquiti, Imbeperequeté
Inquisse guardião das portas das casas. Seu nome refere-se a alguém sentado, ou baixinho, provavelmente em alusão a postura que assumem as pessoas que o incorporam na África. Do Umbundo “Velekete”, pessoa de estatura baixa, ou alguém de cócoras/sentado.
Manawelé, Mawe, Mavilê
Maville é um dos nomes associados a todos os Njila. Mavile vem do Umbundo “Omavele” ou do Quicongo “Mavele”, plurais de “Avele” que significa leite, provavelmente alusão ao poder de ligação destas divindades guardiãs com o poder criador do esperma.
Kunkurunguanje
Inquisse da palavra e da invocação, das poesias e dos Jamberessu. O que fala pelas outras divindades. Do quicongo “Nkunga”, canto, poema, palavra, associado ao Umbundo “Ulungundju”, ronco ou urro. Traduz-se como “aquele de voz rouca”, característica bem típica da manifestação destas divindades.
Kamungo, Camunga
Inquisse que se esconde, que mora embaixo da terra. Seus fetiches são enterrados e as oferendas colocadas por cima, o que o relaciona aos mortos e aos ancestrais. Em linguagem cifrada os jongueiros chamam “Kamungo” de tambor, em alusão ao orifício do instrumento, onde algo pode se esconder. Há o Nhungue “Kabungu”, o Iaca “Nungo”, o Umbundo “Ochimunga” e Quibundo “Kibunga”, todos significando objetos como chapéus, panelas, baldes, etc, utensílios que identificam algo que cobre. Há ainda a concepção totêmica do rato, animal relacionado, na África aos Njila, assim como o marimbondo e outros, pequenos animais com grande poder de penetração nos lugares. A linguagem cifrada dos velhos feiticeiros velou o significado sagrado deste Inquisse, assim, no Umbundo encontramos a forma diminutiva “Oka-mpuku”, ou “Okamundongo”, rato, camundongo, e ainda, “Mundongo”, como escravo, identificando a função exterior de divindades guardiãs africanas como Exu, Bara e Pambu-Njila.
Jembelu
Classe de Njilas que recebe a menga do sacrifício: são os Yembêle. Do quicongo “Mbe”, som onomatopaico de pancada, associado à raiz “Ele”, líquido, leite, ou algo que escorre, no caso, a menga.
Embarujo
O Inquisse guardião da cura, é quem acompanha Kavungu. Do Umbundo “Uemba”, significando feitiço, veneno e remédio.
Kariapemba
Talvez por influência católica já em terras africanas, ou talvez mesmo em Portugal, essa divindade – assim como outras, tais como Nkoce, conforme veremos – é tida como extremamente maléfica entre os angolanos, havendo a necessidade de benzer-se o ambiente onde se acredite que ele esteja. Seu nome, em Quicongo “Nkadi-a-pemba” e em Quibundo “Kádia-Pemba” não assimila outra tradução que não “demônio”.


Manakó, Manacuco, Mancuco, Mancuce
Invocado no pade, é quem providencia a comida e a bebida de todos. Benéfico, não gosta de bebida alcoólica, gosta de branco. É quem dá a fortuna. Há a relação oculta da fortuna e da bem aventurança com o fato de seu nome bantu ser, no Quicongo, “Nkusi”, no plural “Bakusi”, traduzindo “o pescador”. Há ainda “Munkusi” – “Vento que vem do estômago (flatulência)”, traduzindo o estado de saciedade quando se está farto de comida.
Toroni Batola, Bute
Do Ronga “Mbuti”, bode, animal geralmente usado em sacrifício a estes Njila.
Quitungueiro
Inquisse ou espírito da morte, que se apresenta de todas as formas possíveis, pois não é possível desvencilhar-se dela. Do Quicongo “Kintungu”, tudo que aparece por inteiro, que se desenvolve e que se mostra de várias formas. Associa-se o conceito ao Quibundo “Kitungu”, casebre, mausoléu, ou seja, o lugar onde habitam os que se transformaram: cemitério.


Caracoci
Do Quicongo “Ekala” homem (quando se refere a alguém que não se conhece), associado ao Quibundo “Kutxi, Kuxi”, orelha, de onde vem o português “cochichar”. “Homem que murmura, fala baixo”. Muitas das manifestações mediúnicas e possessões africanas e no Brasil, estes espíritos se comunicam dessa forma.


Fonte: http://acervoayom.blogspot.com.br/search/label/Bantu%20-%20Angola%20Congo%20Cabinda%20etc