sábado, 18 de outubro de 2008

AXÉ FORÇA SAGRADA


AXÉ : FORÇA SAGRADA

Sacrifícios

Sacrifício não é sinônimo de assassinato, relacionado que está a rituais sagrados, visando, no candomblé , ampliar, acumular e distribuir a força vital e sagrada que é o axé. Boas partes das religiões utilizavam sacrifícios em seus rituais, mas na maioria das vezes com o sentido expiatório, não se aplicando essa noção ao candomblé por um motivo aparentemente simples: no candomblé não existi pecado, portanto não há o que expiar.

Entre os cristãos, por exemplo, a extinção do sacrifício (em termos reais) justifica-se pela morte de Jesus Cristo, que teria morrido para salvar a humanidade no mais importante sacrifício a que o mundo assistiu. Ocorre que Jesus morreu pelos cristãos e não pelo candomblé, e isso significa, na realidade, que os ritos processados em outra doutrina religiosa não fazem nenhum sentido para os orixás: da mesma forma que os rituais do Candomblé fogem à compreensão da Igreja católica. Em outras palavras, o Candomblé só se explica pelo Candomblé, não adiantando recorrer à Bíblia para explicar e muito menos condenar as praticas da religião dos orixás.

O sangue é de importância vital para os orixás, pois esta ligado à concepção à fertilidade, ao nascimento e a todas as etapas da vida. Sem sangue não há axé, ninguém nasce sem sangue. Quando deixar de haver sacrifícios, o candomblé deixará de existir.

Não se derrama o sangue dos animais por maldade, por crueldade, muito menos para fazer mal a alguém. O sacrifício é a condição para que a vida continue, e não apenas no candomblé. Todos se alimentam, seja de carne, seja de vegetal, e um boi só pode ser comido em bifes, ou seja em parte e depois de morto; uma alface, ao ser desconectada de sua raiz, também é morta. Por que não atribuir um significado religioso a um ato essencial para a sobrevivência humana? Será mesmo que condenação do candomblé se deve ao sacrifício? Não seria essa uma forma de a sociedade camuflar preconceitos mais profundos?

O ritual macabro não estão nos Candomblé e sim nos matadouros, onde os animais são submetidos a inúmeras crueldades e morre com muito sofrimento. Imagine um animal vivo tendo a sua pela arrancada: isso é um exemplo do que ocorre nos matadouros, é por isso que a carne que será consumida pelos iniciados deve ser sacralizada por meio de rituais específicos; a carne de um animal que morreu com sofrimento não faz bem a ninguém. Os judeus e os muçulmanos, por exemplo, só consomem carnes abatidos de acordo com seus preceitos. Porque o candomblé não pode fazer o mesmo?

É um absurdo acusar o Candomblé de fazer sacrifícios humanos, como têm feito certas igrejas. O Candomblé não é uma religião hipócrita e assume o que faz. São sacrificados, sim, bois, bodes, galinhas, patos e muitos outros animais, que depois servem de alimento á comunidade, mas nunca seres humanos, pois o orixá vive no homem e através do homem.

Todo homem sacrifica, não necessariamente num sentido religioso, e mata para sobreviver. Que mal pode haver em oferecer aos deuses as partes que os homens não consomem?

Lembre-se de que Jesus foi condenado á morte por pessoas que viviam a santificá-lo depois, fazendo o sinal da cruz, adorando a sua imagem ensangüentada. Pois que fique bem claro: não somos contra o homem Jesus, mas contra os homens que mataram Jesus. Nós não matamos nossos orixás, nós os amamos com todos os seus defeitos e qualidades.

Para o Candomblé, tudo que a natureza produz é sangue, pois o que define o sangue é a força de detém, ou seja, o axé e um sacrifício requerem a utilização de vários tipos de sangue, vindos das mais variadas fontes da natureza, atribuindo vida e sentido ao orixá, aos homens e á própria existência.

SANGUE VERMELHO

O sangue divide-se em três categorias: o vermelho, o preto e o branco, os elementos detentores de axé são encontrados no reinos animal, vegetal e mineral, configurando a parte material, visível e palpável da força vital.

O sangue vermelho do reino animal é representado pelo fluxo menstrual, pelo sangue dos animais e pelo sangue humano, portanto, todas as pessoas são portadoras de axé. No reino vegetal, o azeite de dendê, o osùn e o mel extraído das flores são os melhores exemplos. Os metais como o bronze e o cobre são portadores de sangue vermelho proveniente do reino mineral.

O sangue vermelho está mai diretamente relacionado às coisas quentes, ao movimento e ao fogo, razão pela qual os orixás que exigem uma quantidade maior desses elementos dominam exatamente esses aspectos da natureza, como Exu, Xangô e Iansã.

SANGUE PRETO

No reino animal, o sangue preto é encontrado principalmente nas cinzas dos animais sacrificados. Sendo a cor verde variação da cor preta, assim como o azul, o sumo das folhas, o pó azul chamado de waji e extraído das arvores, são os exemplos de sangue preto do reino vegetal. Já no reino mineral, encontramos o carvão e o ferro.

A esses elementos relacionam - se mas diretamente os orixás da terra, como Ogum, Oxossi, Ossaim, e muitos outros. Isso não quer dizer evidentemente que deuses ligados a outros elementos não os utilizem.

Porem, da mesma forma que a cor vermelhas e associada imediatamente ao fogo, o preto é associados à terra e o branco à água e ao ar.

SANGUE BRANCO

O sêmen, a saliva, o hálito, as secreções e o plasma são considerados os portadores de sangue do reino animal. O caracol sacrificado a Oxalá é um bom exemplo de um animal de ‘sangue branco’. O reino vegetal está no sul de plantas leitosas e nas bebidas alcoólicas extraída das Palmeiras e de outros vegetais, também esta no íyérosun (pó utilizado pelos babalaôs no opéle ifá ) e no orí (espécie de banha vegetal). No reino mineral temos o sal, o efós (espécie de giz)a prata e o chumbo.

Todos esses elementos são portadores de axé e combinados reforçam, ampliam e restabelecem a relação entre os homens e os deuses. O axé é uma força vital que pode ser acumulada, aumentada, e o sacrifico, com a utilização das mais variadas fontes de axé provenientes de todos os reinos da natureza, e que fortalece o poder dos orixás e dos Candomblés

No dia que o homem engolir uma galinha inteira, viva, sem tirar às penas, o sangue, as vísceras; No dia em que o parto não sangrar e a água não verter sobre a Terra, neste dia eu deixo de cortar para o Orixá.

Pai Cido

Trechos extraído do livro CANDOMBLÉ – A PANELA DO SEGREDO

COLETANEA TATA GONGOFILA.

A CULTURA AFRO BRASILEIRA




A Cultura Afro-Brasileira

A inserção da população negra na sociedade brasileira se deu pelo trabalho, base da organização econômica e da convivência familiar, social e cultural. A miscigenação avança, com um número cada vez maior de mulatos. Nasce uma religiosidade popular em torno das irmandades católicas e dos terreiros de umbanda e candomblé. Em 1800, cerca de dois terços da população do país – 3 milhões de habitantes – eram formados por negros e mulatos, cativos ou libertos.

A cultura afro-brasileira é uma das que mais se destacam no cenário do sincretismo religioso no Brasil.

A música e a dança dos descendentes africanos são exemplos vivos do que é o patrimônio cultural do continente negro amadurecido ao longo do milênio. Uma história antiga e valiosa pode ser contada através da música, da dança, do teatro, do artesanato, da indumentária e das tradições.

Candomblé

O Candomblé se difundiu no Brasil no século passado com a migração de africanos como escravos para os senhores de terra. A população escrava no Brasil consistia quase totalmente de negros de Angola. No momento da chegada dos nagôs, um século e meio de escravidão havia passado, distribalizando o negro e apagando seus costumes, crenças e sua língua nacional. Mas o elemento africano, resistiu e criou uma forma de cultuar seus deuses através do sincretismo com os santos católicos.

Mesmo levando em conta a pressão social e religiosa, era relativamente fácil para os escravos, na sonolência geral, reinstalar na Bahia as crenças e práticas religiosas que trouxera da África, pois, a igreja católica estava cansada do esforço despendido na criação de irmandades de negros como tentativa de anular toda sua cultura, mas todos os meses novas levas de escravos, adeptos ao culto aos Orixás, desembarcavam na Bahia.

Por volta de 1830 três negras conseguiram fundar o primeiro templo de sua religião na Bahia, conhecida como Ylê Yá Nassó, casa da mãe Nassó. (Nassó seria o título de princesa de uma cidade natal da costa da África). Esta seria a primeira a resistir às opressões católicas, desta casa se originam mais três que sobrevivem até hoje e que fazem parte do grande CANDOMBLÉ DA BAHIA, sendo elas: O Engenho velho ou Casa Branca, Gantóis, cuja ilustre dirigente foi mãe menininha do Gantóis (falecida em 1986) e do Araketu.

Os Candomblés se diversificaram desde 1830, a medida que a religião dos nagôs se firmava, primeiro entre os escravos e for fim, no seio do povo. Hoje há quatro tipos de Candomblé ou Candomblé de quatro nações: Kêtu (povo nagô), Jêje (povo nagô, mas obedientes a uma outra cultura), Angola-congo (povo bantu, este culto é mais brasileirado) e de caboclo (cultuam mais os caboclos, mistura-se com a umbanda).

O Candomblé baseia-se no culto aos Orixás, deuses oriundas das quatro forças da natureza: Terra, Fogo, Água e Ar. Os Orixás são, portanto, forças energéticas, desprovidas de um corpo material. Sua manifestação básica para os seres humanos se dá por meio da incorporação. O ser escolhido pelo orixá, um dos seus descendentes, é chamado de elegum, aquele que tem o privilégio de ser montado por ele. Torna-se o veículo que permite ao orixá voltar à Terra para saudar e receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram. Cada orixá tem as suas cores, que vibram em seu elemento visto que são energias da natureza, seus animais, suas comidas, seus toques (cânticos), suas saudações, suas insígnias, as suas preferências e suas antipatias, e aí daquele que devendo obediência os irrita.

A síntese de todo o processo seria a busca de um equilíbrio energético entre os seres materiais habitantes da Terra e a energia dos seres que habitam o orum, o suprareal (que tanto poderia localizar-se no céu - como na tradição cristã - como no interior da Terra, ou ainda numa dimensão estranha a essas duas, de acordo com diferentes visões apresentadas por nações e tribos diferentes). Cada ser humano teria um orixá protetor, ao entrar em contato com ele por intermédio dos rituais, estaria cumprindo uma série de obrigações. Em troca, obteria um maior poder sobre suas próprias reservas energéticas, dessa forma teria mais equilíbrio.

Cada pessoa tem dois Orixás. Um deles mantém o status de principal, é chamado de orixá de cabeça, que faz seu filho revelar suas próprias características de maneira marcada. O segundo orixá, ou ajuntó, apesar de distinção hierárquica, tem uma revelação de poder muito forte e marca seu filho, mas de maneira mais sutil. Um seria a personalidade mais visível exteriormente, assim como o corpo de cada pessoa, enquanto o outro seria a face oculta de sua personalidade, menos visível aos que conhecem a pessoa superficialmente, e às potencialidades físicas menos aparentes.

Como qualquer outra religião do mundo, o Candomblé possui cerimoniais específicos para seus adeptos. no seu caso particular, porém, esses ritos mostram singularidades especialíssimas, como a leitura de búzios (um primeiro e ocular contato com os Orixás), a preparação e entrega de alimentos para cada uma das entidades ou as complexas e prolongadas iniciações dos filhos-de-santo. Através da observância desses procedimentos é que o Candomblé religa os humanos aos seres astrais, proporcionando àqueles o equilíbrio desejado na existência.

O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas: candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no Rio de Janeiro.

A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso do século XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram fixadas, sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físicos e socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num processo de interação que não conheceram antes. Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas, com a formação de grupos de culto organizados.

Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam a ser religiões étnicas dos grupos negros descendentes dos escravos. No início deste século, no Rio de janeiro, o contato do candomblé com o espiritismo kardecista trazido da França no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião afro-brasileira: a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas, espíritas e católicas.

Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos panteões africanos. A partir de 1930, a umbanda espraiou-se por todas a regiões do País, sem limites de classe, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos de nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc.

O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada, sobretudo na Bahia e Pernambuco e outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião exclusiva dos grupos negros descendentes de escravos, começou a mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os lugares, como acontecera antes com a umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para segmentos da população de origem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião exclusiva do segmento negro, passando a ser uma religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se propagar também para fora do Brasil.

Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás. Neste movimento, a umbanda é remetida de novo ao candomblé, sua velha e "verdadeira" raiz original, considerada pelos novos seguidores como sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua moderna e embranquecida descendente, a umbanda.

Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul; o alto custo dos ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse período, importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura brasileira. Intelectuais, poetas, estudantes, escritores e artistas participaram desta empreitada, que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia. Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas mães-de-santo tornou-se um must para muitos, uma necessidade que preenchia o vazio aberto por um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste, estilo de vida já, quem sabe. Eivado de tantas desilusões.

O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito favoráveis para o seu renascimento num novo território, em que a presença de instituições de origem negra até então poucos contavam. Nos novos terreiros de orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados pobres de todas as origens étnicas e raciais. Eles se interessaram pelo candomblé. E os terreiros cresceram às centenas.

O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos quais os seguidores dão o nome de "nações" (Lima, 1984). Basicamente, as culturas africanas que foram as principais fontes culturais para as atuais "nações" de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje estão os países da Angola, Congo, Gabão, Zaire e Moçambique) e da região sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os iorubás e os ewê-fons, circunscritos principalmente aos atuais territórios da Nigéria e Benin. Mas estas origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana. Fonte: Cultura Afro-Brasileira


A arte da Capoeira

Pouco pode se afirmar a cerca da origem da capoeira, devido à falta de documentação. Porém, através da tradição oral e de raros registros, sabe-se que foram os africanos escravizados, aqui no Brasil, que desenvolveram essa arte.

Os negros aprisionados na África e trazidos para o Brasil eram de várias nações e regiões daquele continente, e cada um desses grupos possuía sua própria cultura como, danças, músicas, lutas, religiões, seus rituais etc; aqui chegando já na condição de escravos houve uma grande mistura dos membros desses grupos, e na convivência entre si eles foram absorvendo partes dos conhecimentos de outros.
Neste ponto teria surgido a capoeira, mistura da arte de vários povos africanos e seus descendentes, mas em solo brasileiro.
Outra teoria muito popular e acreditamos que muito de nós aprendemos na escola, que a Capoeira seria uma luta onde os escravos disfarçavam em forma de dança para poderem praticá-la sem problemas, e assim estariam preparados para futuras fugas.
Mas essa história tem algo de errado, pois por volta de 1841, após a chegada de Dom João VI, que fugiu para o Brasil por razão da invasão das tropas de Napoleão Bonaparte em Portugal.
As manifestações culturais negras como a música e a dança foram muito perseguidas e até proibidas pelos nobres e senhores de escravos, sendo assim, como poderia a capoeira ser disfarçada em dança?
Outra afirmação diz que a Capoeira é de origem Africana, pois existe um ritual praticado pelos jovens guerreiros Mucupes, do sul de Angola, durante a Efundula (quando as meninas passam a condição de mulher), realizavam a dança das zebras com o nome de N'golo. O guerreiro que mais se destacasse poderia escolher sua noiva sem precisar pagar o dote ao pai dela.
Mas esta afirmação também merece reservas, pois para muitos historiadores este ritual seria apenas mais um absorvido e misturado pelos negros escravos na nossas colonização.
Existem ainda várias outras histórias sobre a origem da Capoeira, mas nenhuma delas tem a documentação necessária para sua confirmação, pois depois do golpe militar conhecido como Proclamação da República no governo de Deodoro da Fonseca, todos os documentos referentes a escravidão no Brasil foram destruídos com a desculpa dos republicanos de que queriam apagar essa vergonha da história do Brasil.
Mas a verdade é que eles assumiram o governo logo após a abolição, e caberia ao novo governo a indenização necessária aos donos de escravos, e sem as provas documentais, isto seria quase impossível.
Em 11 de outubro de 1890, foi promulgada a Lei n. 487, de autoria de Sampaio Ferraz, que proibia a prática da capoeira e previa punição de 2 a 6 meses de trabalho forçado na Ilha de Fernando de Noronha.
No art. 402, que tratava "Dos vadios capoeira", lia-se:
"Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correria, com armas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto ou desordem, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal.
Pena - prisão celular de dois a seis meses.
Parágrafo único - é considerada circunstância agravante pertencer o capoeira a algum bando ou malta. Aos chefes e cabeças se imporá a pena em dobro."
Curioso foi que, como não eram apenas os negros e populares que praticavam a capoeira, a lei acabou atingindo importantes pessoas da nobreza. Exemplo disso foi o conhecido caso de José Elísio dos Reis. Seu pai era o Conde de Matosinhos e proprietário do jornal O País.
Conhecido de todos como praticante da Capoeira, Juca Reis, antes da aprovação da lei, estava em Portugal. Quando retornou ao Brasil, foi preso por Sampaio Ferraz. A sua liberdade foi conseguida graças à influência de Quintino Bocaiúva. Este ameaçou renunciar ao seu cargo de ministro das Relações Exteriores caso Juca Reis não fosse liberto.
Quintino foi ouvido por Marechal Deodoro e o "nobre" capoeira voltou para Portugal.
Os capoeiras continuaram perseguidos por todo o século XIX.
Além da elite, que deles tinha verdadeiro pânico, a população também apoiava a ação dos policiais. O texto publicado no jornal Diário de Notícias, a 19 de janeiro de 1890, exemplifica:

"É polícia das primeiras
É levadinha do diabo
Deu cabo dos capoeiras
Vai dos gatunos dar cabo
Já da navalha afiada
A ninguém o medo aperta
Vai poder a burguesada
Ressonar com a porta aberta
A ir assim poderemos
Andar mui sossegadinhos
Nessa terra viveremos
Como Deus com seus anjinhos
Ai! Assim continuando,
A polícia hemos de ver
As suas portas fechando
Por não ter mais que fazer."

Fonte: litoralway


Culinária afro-brasileira

O negro introduziu na cozinha o leite de coco-da-baía, o azeite de dendê, confirmou a excelência da pimenta malagueta sobre a do reino, deu ao Brasil o feijão preto, o quiabo, ensinou a fazer vatapá, caruru, mungunzá, acarajé, angu e pamonha.
As cozinhas negras, pequenas, mas forte, fez valer os seus temperos, os verdes, a sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes; fez a mesma coisa com os pratos da terra; e finalmente criou a cozinha brasileira, descobrindo o chuchu com camarão, ensinando a fazer pratos com camarão seco e a usar as panelas de barro e a colher de pau.

Milagre para o governador tomar sopa
O primeiro negro pisou no Brasil com a armada de Martin Afonso. Negros e mulatos (da Guiné e do Cabo Verde) chegaram aqui em 1549, com o Governador Tomé de Souza, que comia mal e era preconceituoso: entre outras coisas, não admitia sopa de cabeça de peixe, em honra a São João Batista.
Bem que o Padre Nóbrega tentou convencê-lo de que era bobagem, mas Tomé de Souza resistiu, até que o jesuíta mandou deitar a rede ao mar e ela veio só cabeça de peixe, bem fresca e o homem deixou a mania, entrou na sopa.

Da guiné vieram, principalmente, fulas e mandingas, islamitas e gente de bem comer. Os fulas eram de cor opaca, o que resultou no termo “negro fulo” (entrando depois na língua a expressão “fulo de raiva”, para indicar a palidez até do branco). Os mandingas também entraram na língua como novo sinônimo para encantamentos e artes mágicas. Mas os iorubanos ou nagôs, os jejes, os tapas e os haussás, todos sudaneses islamitas e da costa oeste também, fizeram mais pela nossa cozinha porque eram mais aceitos como domésticos do que a gente do sul, o povo de Angola, a maioria de língua banto, ou do que os negros cambindas do Congo, ou os minas, ou os do Moçambique, gente mais forte, mais submissa e mais aproveitada para o serviço pesado.

O africano contribuiu com a difusão do inhame, da cana de açúcar e do dendezeiro, do qual se faz o azeite-de-dendê. O leite de coco, de origem polinésia, foi trazido pelos negros, assim como a pimenta malagueta e a galinha de Angola.

Abará
Bolinho de origem afro-brasileira feita com massa de feijão-fradinho temperada com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, algumas vezes com camarão seco, inteiros ou moídos e misturados à massa, que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Iansã, Obá e Ibeji).

Aberém
Bolinho de origem afro-brasileira, feito de milho ou de arroz moído na pedra, macerado em água, salgado e cozido em folhas de bananeira secas. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Omulu e Oxumaré).

Abrazô
Bolinho da culinária afro-brasileira, feito de farinha de milho ou de mandioca, apimentado, frito em azeite-de-dendê.

Acaçá
Bolinho da culinárias afro-brasileiras, feitas de milho macerado em água fria e depois moído, cozido e envolvido, ainda morno, em folhas verdes de bananeira. (Acompanha o vatapá ou caruru. Preparado com leite de coco e açúcar, é chamada acaçá de leite.) [No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Oxalá, Nanã, Ibeji, Iemanjá e Exu.

Ado
Doce de origem afro-brasileira feita de milho torrado e moída, misturada com azeite-de-dendê e mel. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Oxum).

Aluá
Bebida refrigerante feita de milho, de arroz ou de casca de abacaxi fermentados com açúcar ou rapadura, usada tradicionalmente como oferenda aos orixás nas festas populares de origem africana.

Quibebe
Prato típico do Nordeste, de origem africana, feito de carne-de-sol ou com charque, refogado e cozido com abóbora.
Tem a consistência de uma papa grossa e pode ser temperado com azeite-de-dendê e cheiro verde.

Fonte: terrabrasileira.net


Música e Dança

Na África, ser músico é quase como ser padre, pois a música está ligada às tradições religiosas. E aquele que nasce em uma família de músicos deve seguir o ofício até o fim da vida. Nenhum ritual importante na religiosidade africana é praticado sem música. Canta-se e toca-se para tudo e para todos os santos. No Brasil, o candomblé exerceu forte influência na música de todo o país e é conhecido nas diversas regiões por nomes diferentes. No Maranhão, o culto é conhecido como tambor de mina. Do Rio Grande do Norte até Sergipe, o candomblé recebe o nome de xangô. Já no Rio Grande do Sul, o nome corrente é simplesmente batuque.

Séculos de miscigenação com mulçumanos do norte da África justificam a enorme permissividade de Portugal com relação a determinadas práticas musicais e religiosas: os batuques. Nos Estados Unidos, por exemplo, os negros nunca puderam tocar seus tambores.

No candomblé usam-se três tambores de timbres diferentes e um agogô, instrumento de ferro que repercute como um sino, para acompanhar as cantigas levadas pelos pais e mães-de-santo na condução das cerimônias religiosas. Ainda hoje a língua dos cânticos preserva palavras da língua original

Batuque é a denominação genérica para as danças dos negros africanos. Carimbó, tambor de criola, bambelô, zambê, candomblé, samba de roda, jongo, caxambu são alguns dos batuques ainda praticados em todo o Brasil, principalmente nas ocasiões em que os negros se reúnem para festejar ou lembrar a escravidão. A palavra "batuque" aparece nos relatos mais antigos da nossa história. No entanto, não se sabe se ela se refere a uma dança de sapateados e palmas ou a um ritual religioso. Sabe-se, porém, que os senhores tinham total desprezo pelas práticas culturais africanas por considerá-las obscenas. A umbigada, gesto em que os ventres do homem e da mulher se encontram no ponto culminante da música, era uma das danças desprezadas pelos senhores de engenho.

Samba - O samba verdadeiro era de lamento, pois era assim que o negro lamentava a sua vida. O samba é uma dança animada com um ritmo forte e característico. Originou da África e foi levado para a Bahia pelos escravos enviados para trabalhar nas plantações de açúcar. A dança gradualmente perdeu sua natureza ritualista e eventualmente se tornou a dança nacional brasileira. Na época de carnaval no Rio de Janeiro que colocou o samba no mapa ocidental, os baianos das plantações de açúcar viajavam das aldeias até o Rio para as festas anuais. Gradualmente a batida sutil e a nuança interpretativa do samba levavam-nos rua acima dançando nos cafés e eventualmente até nos salões de baile, tornou-se a alma dança do Brasil. Originalmente a dança teve movimentos de mão muito característico, derivados de sua função ritualista, quando eram segurados pequenos recipientes de ervas aromáticas em cada uma das mãos e eram aproximadas do nariz do dançarino cuja fragrância excitava. Havia muito trabalho de solo e antes de se tornar uma dança de salão, teve passos incorporados do maxixe. Os grandes dançarinos americanos, Irene e Castelo de Vernou, usaram o samba nas suas rotinas profissionais, e assim começou a se espalhar. Mas provavelmente foi Carmem Miranda, a brasileira mais conhecida de todos, que com tremenda vitalidade e perícia de atriz, colocou o samba como o mais excitante e contagiante do mundo. No Brasil o desfile das escolas de samba, cresceu e o País desenvolveu seu próprio ballet artístico com ritmo de samba e movimentos básicos.

COLETANEA TATA GONFILA

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UM PADRE INICIADO NO CANDOMBLÉ


UM PADRE INICIADO NO CANDOMBLÉ


Importante posição ecumênica deste padre que mostra sua visão sobre o
Candomblé como religião compatível e complementar para o benefício do
ser humano; os exageros da Igreja e sua posição atualizada que resgata a
legitimidade do Candomblé através da Carta de Paulo VI - Africae Terrarum...

Paulo "Olúsinadé" Botas, 56, é padre, teólogo, doutor em filosofia, militante de movimento ecumênico, estudioso, pesquisador e iniciado no Candomblé, como Ogã de Ogum no Ilê Axé Opô Afonjá, em Salvador, pela Iyalorixá Stella D'Oxossi. Tem em sua conduta e no seu trabalho uma visão e posição ecumênica, no sentido que as pessoas rompam seus preconceitos em relação às religiões africanas e entendam serem religiões complementares e compatíveis, para o benefício do próprio ser humano. Para tanto, coloca de forma clara e inequívoca, situações que contribuíram para o distanciamento destas religiões co-irmãs, bem como o resgate da legitimidade do Candomblé como religião, dos exageros da Igreja para atingir seus objetivos de religião superior e oficial nos países que entrou com seu processo evangelizador, citando e dando a devida atenção, ao documento oficial do Papa Paulo VI, de 1967, o qual valoriza a religião africana em seu documento oficial - Africae terrarum - Terras das África, no qual reconhece a religião africana como positiva e não mais como religião não-cristã, até mesmo porque Cristo veio ao nosso mundo, alguns milhares de anos após a existência desta religião.Mostra assim, que é Divino as diversas culturas e religiões, nos mais diversos cantos da terra. Nos mais diversos cantos da terra

O PAPA E SEU DOCUMENTO "AFRICAE TERRARUM”

"Em 1967, o papa Paulo VI lançava um documento oficial valorizando a religião africana e a colocando lado a lado das outras religiões universalmente conhecidas. Irônica ou intencionalmente, esse documento não foi suficientemente divulgado e amadurecido pelas comunidades cristãs; o que teria, sem dúvida, aniquilado muitos dos preconceitos e dos dogmatismos das igrejas locais. o mais importante é o fato de o Papa reconhecer a religião africana como positiva e não mais como uma religião não-cristã. Essa mudança de ótica legitima e estimula o reconhecimento da diferença como condição fundamental para um diálogo inter-religioso."A vida espiritual é o fundamento constante e geral da tradição africana. Não se trata simplesmente da assim chamada concepção "animista", no sentido emprestado a esse termo na história da religiões, no fim do século passado. Trata-se, antes, de uma concepção mais profunda, mais ampla e universal, segundo a qual todos os seres e a mesma natureza visível se acham ligados ao mundo do invisível e do espírito. O homem, em particular, nunca é concebido, como apenas matéria, limitado à vida terrena, mas reconhece-se nele a presença e a eficácia de outro elemento espiritual que faz a vida humana ser sempre posta em relação com a vida do além. Desta concepção espiritual, elemento comum importantíssimo é a idéia de Deus, como causa primeira e última de todas as coisas. Esse conceito, percebido mais do que analisado, vivido mais do que pensado, exprime-se de modo bastante diverso de cultura para cultura. Na realidade, a presença de Deus penetra a vida africana, como a presença de um ser superior, pessoal e misterioso. A ele se recorre nos momentos mais solenes e críticos da vida, quando da intercessão de qualquer outro intermediário se julga inútil. Quase sempre posto de lado o temor da onipotência, Deus é invocado como Pai. As preces a ele dirigidas, individuais ou coletivas, são expontâneas e por vezes comoventes. E entre as formas de sacrifício sobressai pela pureza do significado o sacrifício das primícias(...) A participação na vida da comunidade, quer esta seja no âmbito da parentela quer no da vida pública, é considerada como um dever preciso e como um direito de todos, mas ao exercício desse direito se chega somente depois de uma preparação amadurecida, por meio de uma série de iniciações com o objetivo de formar o caráter dos jovens candidatos e instruí-los sobre as tradições e normas consuetudinárias da sociedade". (Paulo VI. Africae terrarum) Muita violência teria sido evitada se os católicos tivessem dado ouvidos e compreendido toda a riqueza dessas palavras do seu líder e pastor máximo. Poder-se-ia ter avançado, e muito, na troca permanente dos valores religiosos. Beber na fonte da tradição religiosa que originou Jesus de Nazaré e o cristianismo. Nada está em contradição. São outros momentos e outras culturas, outra vivências e expressões, outras faces de um mesmo Deus."Eis porque o africano quando se torna cristão não se renega a si mesmo mas retoma os antigos valores da tradição "em espírito e em verdade." (Africae terrarum).

COLETANEA TATA GONGOFILA.