terça-feira, 27 de janeiro de 2009

LENDA NKICE MUTALAMBÔ E NGÒBILA



Mutalambô Descobre O Segredo De Mukila Mpakasa


Jikabila todos os dias levava os mpakasa (boi do mato) para pastar e notou que algo de errado estava acontecendo, pois cada vez que atravessava a floresta um de seus mpakasa desaparecia e o que se ouvia eram gritos roucos e assustadores. Então chegando a aldeia falou com o mukongo mutalambô que logo saiu a caça deste animal feroz que emitia sons roucos e devorava os mpakasa deixando apenas a cabeça.

Quando chegou a floresta mutalambô contava apenas com a proteção de um amuleto que havia ganhado de um ser encantado da floresta com o nome de aroni, batendo nas árvores afugentava npanzo (espírito que mora nas raízes das árvores) procurou por vários dias e noites e nem sinal do feroz animal, foi então até a beira do rio se lavar, lá chegando viu um ser meio gente e meio cobra, logo lançou mão de suas armas e com tal destreza apontou para o ser, mas no momento de atirar soou um eco e a terra enlameada se abriu.

Da mesma surgiu mametu zumba que impediu mukongo mutalambô de concretizar sua caçada. Pois o ser que estava na água era angorô que ao perceber o perigo se escondeu por de trás das nuvens. Local também de sua morada (ora nas águas, ora nas nuvens) então mametu zumba pérguntou a mutalambô: porque queria matar angorô. E este relatou o acontecido referente aos mpakasa de jikabila. E com a promessa de que não atiraria em angorô, mametu zumba pediu que mutalambô viesse junto com jikabila trazer os mpakasa para–bila (pastar) e quando escutassem o som rouco na floresta olhasse na água do rio e lhe seria revelado o verdadeiro culpado. Assim fez mutalambô, e quando escutou o som rouco olhou para as águas e no reflexo viu um ser vestido de vermelho. Era o nono filho de nbana. Mutalambô percebeu que ele andava por detrás das árvores esperando o momento de atacar os mpakasa pois cada vez que mpakasa balançava a cauda o nono filho de nbana corria espantado. Percebendo isto mutalambô se apoderou de um rabo de mpakasa e pediu para jikabila balançar toda vez que escutasse a voz rouca. Então nunca mais sumiram os mpakasa dentro da floresta. Não contente com a situação mukongo mutalambô se pôs em perseguição ao ser de voz rouca e vestimenta vermelha e com o rabo do mpakasa o dominou, certo que iria mata-lo armou seu golpe e rápido como um relâmpago entre eles surgiu uma bela mulher que pedia pela vida do filho. Era ela nbana linda e graciosa, então explicou a mutalambô que às vezes perdia o controle sobre o filho e o mesmo atacava rebanhos e pessoas. Mutalambô encantado pela beleza de nbana revelou a ela o segredo do rabo de mpakasa e esta passou a ter domínio total sobre o filho que em agradecimento passou a viver com mutalambô.

Mas isto é outra história... O certo é que todo bom pastor protege seu rebanho com mukila (rabo) de mpakaza (boi do mato)...

COLETÂNEA TATA GONGOFILA


Encontro Com Os Antepassados

Mukongo mutalambô como de costume havia adentrado as matas para mais uma caçada, pois dele dependia a maior parte do sustento da tribo, ao entardecer mugongo mutalambô percebeu a floresta diferente, havia uma névoa e os espíritos da floresta gritavam como se estivessem atendendo um chamado. Matalambô então de posse do rabo de boi do mato, mantinha os espíritos dominados, e com a chegada da noite a floresta ficou mais fria associada a lua.

Mukongo mutalambô ficou perdido por vários dias na floresta e sem o que comer já estava fraco, então começou a imitar canto de pássaros e gritos de feras para atrai-los na intenção de se alimentar, quando se viu envolvido por uma nuvem de abelhas que o conduziu até uma árvore magestosa, que ele nunca havia avistado e foi recebido por um antepassado mukongo de elefantes, mukongo mutalambô tratou de interrogar o homem de porte magestosa: o que está a acontecer?

E respondeu com voz firme e olhar penetrante: sou seu antepassado familiar.

E sem perceber fez um élo conosco, pois usa um rabo de boi do mato que significa tudo que ficou para tráz (o passado o espírito dos mortos), através dele nos comunicamos pois é um símbolo de realeza, de nós antepassados familiares, e explicou para mutalambô que naquele local deveria construir uma fortaleza onde deveriam cultuar seus antepassados familiares, e naquele momento mostrou o interior da árvore para mutalambô que continha um esqueleto do elefante mais velho da floresta e uma seiva que serviu de alimento a mutalambô. Era a comunhão com os antepassados e a ele foi dito: esta seiva (mel ) que apenas será servida a todos em louvor a nós antepassados ficará guardado pelas abelhas que servirão de mensageiras, pois elas significam a força feminina como a árvore que cedeu suas entranhas para ser depositado a seiva ( mel o alimento dos reis ), esta árvore significa sua mãe, e o elefante dentro dela o símbolo de realeza, e foi assim que mutalambô teve sua primeira experiência com os antepassados . E até hoje divide o mel com os filhos para lembrar os antepassados familiares. E só nesta ocasião lhes é servido o mel, que até mesmo para mutalambô se torna difícil a colheita, pois se não tivesse em mãos o rabo de boi do mato para afastar as guardiãs, não chegaria até a seiva...

COLETÂNEA TATA GONGOFILA


Ngòbila

Logo ao raiar do dia kissimbi se banhava no riacho mirando-se no espelho, pois antes de atender qualquer chamado se pintava e lustrava suas jóias e coquete como ela só, sempre se apresentava com uma beleza incomparável que poderia encantar até os pássaros da floresta, e não foi diferente com mukongo mutalambô, que ao ver kissimbi como por magia ficou encantado aproximando-se para apreciar tamanha beleza.

Kissimbi percebendo sua aproximação teve a visão de um caçador forte e viril que também a encantou. Então várias vezes mukongo mutalambô se aproximava da beira do rio para ver sua amada e quando não a avistava tocava sua trombeta feita de chifre, que carregava sempre consigo, avisando de sua chegada. Kissimbi então deixava seu reino e se entregava ao amor de mutalambô, que gerou um filho, mas como kissimbi não podia mante-lo em seu reino pois o mesmo era composto apenas por mulheres e a presença de homem era proibida, levou o filho nos braços até a margem e entregou aos cuidados do pai mutalambô.

Mutalambô adentrou a floresta com o filho nos braços, onde o criou e ensinou a arte da caça, foi quando passou a ser chamado de "ngòbila o caçador que se vestia apenas de tanga", era um eximio caçador e suas presas preferidas eram as aves por apreciar sua carne. Um dia ao perseguir sua presa se deparou com lindas mulheres que se banhavam no riacho, encantado com a beleza ngòbila passou a freqüentar o riacho todos os dias pescando e assim podia observar a beleza ali encontrada. As mulheres então informaram kissimbi que um homem todos os dias às observavam. Kissimbi então saiu de seu reino e veio até as margens do rio, logo que avistou o caçador reconheceu seu filho chamado ngòbila pelo pai, kissimbi ficou sem palavras e ngòbila sentiu o mesmo diante de tanta beleza, por um minuto se olharam e kissimbi percebeu que a vestimenta do filho era apenas uma tanga e vaidosa como ela só ofereceu um presente a ngòbila que nada entendeu.. Kissimbi desceu até o fundo do rio e trouxe uma armadura muito antiga e a lustrou presenteando ngòbila, logo em seguida voltou para o reino de seu pai vestido de bela armadura que agora o protejia na floresta, então relatou o fato a mutalambô que lhe revelou o segredo de seu nascimento e presenteou o filho com a sua trombeta de chifre dizendo: todas as vezes que quizer visitar sua mãe, toque a trombeta as margens do rio e ela virá a seu encontro. E toda vez que a trombeta é tocada kissimbi vem até as margens do rio para ver "terekumpenso – o pescador” seu filho e lustrar sua armadura... Ngòbila assim chamado por mutalambô quando está na floresta, recebe 21 kisaba (folhas) do pai e 16 da mãe. Terekumpenso chamado por sua mãe quando está a pescar na beira do rio, recebe 21 kisaba (folhas) da mãe e 16 do pai. Muitas vezes por sua armadura é confundido com incoce...

COLETÂNEA TATA GONGOFILA


LENDA NKICE NKOCE


Nkice Nkoce

Conta-se que os moradores de um vilarejo já não suportavam mais ter que pagar para entrar e sair, pois no portão pambunjila havia colocado um cão feroz que atendia suas ordens e recebia dos moradores o pagamento pela entrada e saída do lugar. Procuraram então o guerreiro jambá que conhecido por sua bravura em batalhas aceitou o desafio de passar pelo portão sem pagar pedágio. Colocou uma espada escondida em suas roupas e levou também um bastão mágico que utilizava em suas viagens para apontar o caminho certo. Chegando no portão o cão lhe disse: pague e poderá passar ou volte pelo mesmo caminho. Jambá não acatando a ordem continuou em direção do guarda do portão que avançou sobre ele, mas jambá o decapitou com um golpe de espada. Ao saber do acontecido pambunjila se fez presente e aproveitando a distração de jambá roubou o bastão e se lançou sobre ele a golpes de porrete e junto com pambunjila estavam um exercito de cães ferozes. Jambá então fugiu para a floresta e atrás dele foram pambunjila e os cães deixando livre o portão do vilarejo...
Jambá então lutou na floresta com muitos cães e decapitou quase todos, conseguindo despistar o inimigo...
Mas com suas roupas rasgadas pelos espinhos e pela batalha, cobriu-se com folhas de palmeira retornando para casa. E até hoje em dias de festa jambá se enfeita com folhas de palmeira para relembrar sua batalha contra pambunjila e seu exercito de cães, e os moradores dos vilarejos mantêm o ritual de decapitar um cão em homenagem ao nkisi jambá, aquele que livrou o vilarejo dos guardas de pambunjila...
Mas na batalha pambunjila ficou conhecido também como aquele que fez fugir para a floresta o inimigo a golpes de porrete...
“Pambu Kaloré”
“Pambu Tibiriri”

COLETÂNEA TATA GONGOFILA

LENDA PAMBUNJILA


Pambunjila

Em suas visitas diárias ao mercado pambunjila percebeu que um homem e sua família pediam o que comer, pois não conseguiam trabalho e eram tratados com sobras e restos do lado de fora do mercado, pois sua entrada era proibida devido sua enorme pobreza. Um dia pambunjila se vestiu também de mendigo e tentou entrar no mercado onde foi barrado. Pediu comida e foi lhe oferecido restos, então pambunjila entendeu o sofrimento daquela pessoa, e ao receber umas moedas como esmola o mendigo mesmo sem ter nada repartiu com pambunjila, e disse:

- Pobre homem que se encontra em uma situação como a minha, compre algo e leve a sua família. Pambunjila com a moeda comprou um cachimbo e uma flauta, hora fumava cachimbo ora tocava a flauta e todos que passavam deixavam ao lado daquela família um donativo, que sempre era repartido com pambunjila, e tantos foram os donativos que a família comprou uma casa, terra e sementes para plantar, e dividiam tudo que tinham com aquele homem que nunca parava de tocar a flauta e fumar seu cachimbo.

Mas com o passar do tempo a família se tornou muito rica e se esqueceram do amigo que junto com eles ficava na porta do mercado, só se preocupavam em gastar dinheiro, e não mais sabiam repartir seus bens e comida.

Um dia voltando para casa depois de vários dias de viagem e festas, repararam que o homem da flauta não mais tocava e também não fumava seu cachimbo, riram dele e se puseram a dormir, ao acordarem sua plantação estava toda seca já não mais brotava, tiveram sua casa roubada e sua comida já não conseguiam comprar, perderam tudo e voltaram a pedir na porta do mercado... “quando pambunjila fumava seu cachimbo e tocava sua flauta, ele restituía tudo que a ele era oferecido e por ele ingerido”. “se você não compartilha seus alimentos com pambunjila, ou não lhe faz oferendas, poderá pedir esmolas na porta do mercado”.

COLETÂNEA TATA GONGOFILA

CRIAÇÃO DO MUNDO SEGUNDO A TRADIÇÃO BANTU


Nzambi Anpungu (Deus Poderoso) Criou O Mundo E Tudo Que Nele Existe, Criou Também Uma Mulher Para Ser Sua Esposa E Para Que Por Seu Intermédio, Pudesse Ter Descendência Humana A Fim De Que Esta Povoasse A Terra E Dominasse Todos Os Animais Selvagens Por Ele Criado. Ela Se Chamaria Então Ná Kalunga, Em Virtude Da Filha Que Iria Dar A Luz Se Chamar Kalunga. Quando Kalunga Atingiu A Puberdade Nzambi Decidiu Sair Para Mostrar A Kalunga Tudo Que Tinha Criado E Após 3 Meses Retornaria. Na Viagem Logo Ao Anoitecer Nzambi Construiu Uma Kubata (Palhoça) Com Apenas Uma Cama, Se Recusando A Dormir Com O Pai, Kalunga Corre Chorando.
Nzambi Para Convence-La A Manda Voltar Para Não Ser Devorada Pelas Feras. Voltou Então E Dormiu Com Seu Pai Toda Viagem. Quando Retornaram Ná Kalunga Viu Que Sua Filha Estava Grávida, Enraivecida Com O Fato Se Enforcou Em Uma Arvore Perante Nzambi E Kalunga.
Nzambi Nada Fez Para Impedir, Pelo Contrário A Achando Indigna De Continuar A Ser Sua Esposa, Não Compreendendo Os Desígnios Para Povoar O Mundo Que Ele Tinha Criado Então Amaldiçoou E A Transformou Num Espírito Maligno A Quem Deu O Nome De Mulungi Mujimo (Ventre Ruim Da Primeira Mãe Que Existiu Na Terra).
Nzambi Passou A Viver Com Kalunga Que Passou A Se Chamar Também Ndala Karitanga E Com Isso A Segunda Divindade.
Um Dia Ndala Karitanga Passou A Sonhar Com Sua Mãe A Insultando, Dizendo Que Iria Devora-La.
Nzambi A Tranquilizou Dizendo Que Aquela Que Foi Sua Mãe Agora Era Um Espírito Mau Que Estava Apenas Pedindo Comida. Nzambi Fez Um Montículo De Terra Na Porta Da Kubata E Pediu Para Ndala Karitanga Buscar Um Animal Para O Sacrifício E Para Que A Mesma Disesse Ao Mesmo Tempo, (Minha Mãe Acabo De Vir Chorar-Te, Agora Não Voltes A Ter Comigo Outra Vez, Porque Se Volto A Ver-Te, Vou Prender-Te) (Mam É Nzanga Kudila Ni Malamba Kindala Kana Uiza Kukala Ni Kuami Akamúkua,Nda O Kudila O Kujibisa), Com O Tempo Kalunga Ou Ndala Karitanga Deu A Luz A Nkuku-A-Lunga (Inteligente), Passando Este A Ser A Terceira Pessoa Da Trindade Divina. Quando Cresceu Nzambi Lhe Deu O Poder Da Adivinhação, Nzambi Ordenou Que se Casa Com Kalunga (Para Se Tornar Pai De Todas As Tribos Bantu) E Concebeu 2 Filhos Primeiro Masculino Sá Mufu Segundo Feminino Ná Mufu.
Nzambi Ordenou Que Sá Mufu Casasse Com Sua Mãe E Ná Mufu Com Seu Pai Informando-Os Que Depois Daquelas Uniões As Seguintes Se Fizessem Só Entre Primos. Destas Uniões Nasceram Do Sexo Masculino - Kitembu-A-Banganga, Ndundu, Ngonga Umbanda, Kanongena, Kambuji E Outros. Do Sexo Feminino - Mujumbu, Ndumba Au Tembu, Samba Kalunga, Kasai, Lueji, Mukita E Outras. Nzambi Os Ensinou A Se Multiplicar E A Lutar Contra Doenças E Feitiços Que Os Seus Descendentes Viessem A Possuir. Após Deixarem A Vida Terrena Cada Um Dentro Da Sua Atribuição Iria Supervisionar O Mundo Que Ele Havia Criado. Nzambi Se Despediu E Levando Um Cão Que Sempre O Acompanhava, Se Dirigiu Para Sanzala Kasembe Diá Nazambi (Aldeia Encantada De Deus) Onde Recompensa Os Bons E Castiga Os Maus.
Naquela Altura As Rochas Estavam Moles Por Terem Sido Feitas Recentemente, E Até Hoje No Nordeste De Angola Se Pode Ver As Pegadas Na Rocha De Nzambi E Ao Lado Do Seu Cão (Segundo A Tradição Existem Pegadas Por Toda A África), Comprovação Feita Pela Seção De Arqueologia E Pré História Do Museu De Dundo - Angola (Que São Originais E Não Forjadas Pelo Homem) Segundo As Tradições A Morada De Nzambifica Entre Os Rios (Luembe E Kasai) Junto A Nascente Do Mbanze.

COLETÂNEA TATA GONGOFILA.