Psicanálise e religião
Cristãos e não-cristãos, todos nós fomos, de alguma maneira, influenciados pelos ensinamentos de Cristo. Todavia, não é minha intenção o seu sentido místico e religioso. Não estou sequer qualificado para tanto. Não sou teólogo ou psicanalista. Discutirei, portanto, os aspectos psicológicos da doutrina de Cristo. Discutirei, à luz da psicanálise, o sentido de pecado e de salvação.
Utilizando uma terminologia psicanalítica, eu entenderia a virtude como aquele jeito de viver que nos torna mais sadios, mais capazes de crescer emocionalmente e, portanto, de nos tornarmos mais felizes, mais realizados. E entenderia pecado como aquelas atitudes de cabeça que fazem as pessoas se sentirem perdidas, angustiadas e infelizes. Por pecado eu entenderia aquele jeito de pensar, de sentir e de agir que leva ou ao empobrecido da personalidade (cabeças empobrecidas e corações mediocrizados) ou “a doença mental (neurose, psicose, etc.)
Sendo que esse “pecado de cabeça” nos foi ensinado pela sociedade e até por nossos antepassados levando assim a acreditar que a ignorância humana não é uma atitude interior e sim o que nos foi passado.
O que significa a palavra “religião”? Religião significa religar, ligar de novo. Ou seja, redescobrir o nexo das coisas, não deixar nosso pensamento se perder e se consumir numa eterna difusão. Como a vida é sempre maior do que nossa capacidade de compreendê-la, algo que nos ajude a estabelecer a ligação entre as coisa é sempre bom. A perdição não é ter pensamentos sexuais. É, isso sim, estará deriva, como nau sem rumo equivocado. A cabeça imagina que encontrou seus objetivos, mas, na realidade, esta desnorteada, não sabe o que quer, pra onde vai, nem por que faz as coisas que faz. E doença mental é isso: é estar à deriva, levado por impulsos e obsessões, ou perdido dos outros e de si mesmo. Um labirinto de desejos e emoções dentro do qual, na realidade, não nos encontramos.
E o que significa a palavra pecado? Pecado vem do latim, “pecare”, que significa “errar o alvo”, estar desorientado, sem bússola ou com a bússola errando nas informações que oferece.
Por isso, a verdadeira psicanálise não pode conflitar com as verdadeiras religiões. Quando saímos da superfície das aparências imediatas, descobrimos muitos pontos em comum.
A psicanálise, por exemplo, não considera as crianças anjinhos ou querubins. Desde o berço, a cabecinha do bebê está a mil. Desde o nascimento da criança é extremamente generosa, mas extremamente cruel. É sujeita a grandes amores e grandes ódio. A um só tempo, é dócil e temperamental, crédula e desconfiada, ingênua e maliciosa. E sua malícia não se resume a aprontações inocentes: não: estas são abertamente sexuais. Só que a maneira de a criança transar sexo é diferente daquela que terá quando for adulta. Nos seus momentos de cólera, se tivesse meios, seria concretamente capaz de realizar atos de extrema violência. Em síntese, já existe na criança, em miniatura, em estado de semente, todas as virtudes e todas as misérias do adulto.
Eduardo Mascarenhas.No candomblé somos considerados cristãos de acordo com o documento oficial - Africae terrarum de 1967 do Papa Paulo VI, que valoriza a religião africana.
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