quinta-feira, 5 de março de 2009

LENDA NKICE ANGORÔ E NKICE ZUMBANDARÁ


Mametu Zumba Divindade Antiga E Respeitada, Costumava Habitar Lagos E Lamaçais, Pois Remexia O Iungo Preparando-O Para Nzambi Enviar Todos Os Seres E Vegetais Criados Por Ele E Assim Povoar A Terra. Mas Sentia Uma Enorme Tristeza E Solidão, Até Que Certo Dia Pediu A Nzambi Que Enviasse Ao Iungo Um Ser Que Pudesse Acompanha-La Em Seu Trabalho.
Nzambi Atendendo Seu Pedido Preparou Uma Massa Contendo Móio (O Sopro Da Vida, A Energia Vital) Enviando Ao Iungo E Pediu Para Que Mametu Zumba Enterrasse Bem Fundo Para Que O Ser Fosse Gerado No Próprio Iungo. Então Do Seio Da Terra Surgiu O Primeiro Ser, Era Angorô Um Ser Capaz De Transportar A Água Da Lagoa E Dos Rios Até O Local Onde Mametu Zumba Remechia A Terra.
Com O Passar Do Tempo Nzambi Povoou A Terra E Surgiram Animais De Todas As Qualidades E Junto Com Eles Vários Seres Com Formato De Angorô (Cobra) Porém Sem O Poder Que Nzambi Conferiu A Angorô.
Os Homens Povoaram A Terra, E Com O Tempo Se Tornaram Ferozes Caçadores E Passaram A Dizimar Os Animais Criados Por Nzambi, E No Decorrer Destas Caçadas Avistaram Angorô Transportando A Agua Dos Lagos E Logo Atacaram A Divindade Que Mergulhou Na Lagoa Para Se Protejer E Lá Permaneceu, Mametu Zumba Ao Perceber Que Angorô Não Mais Transportava A Agua Voltou A Lagoa A Sua Procura. Angorô Então Contou O Fato A Mametu Zumba Que Pediu Que Ele Se Escondesse Atráz Das Nuvens E Só Descesse Ao Iungo Quando Realmente Não Houvesse Perigo.
Mas Os Homens Continuavam A Dizimar Todas As Cobras Que Sendo Terrestres E Frágeis Nada Podiam Fazer, E Certo Dia Angorô Furioso Ao Ver Seus Semelhantes Mortos Desceu Das Nuvens E Mordeu A Terra, Chamando Todas As Cobras Para Dentro Do Buraco, Pediu Para Que Procriassem Sempre Dentro Da Terra E As Ensinou A Nadar Para Fugir Dos Caçadores, Mas Um Problema Maior O Preocupava, Como Fariam Para Se Defender?
Recorreu Então A Mametu Zumba Divindade Mais Antiga Que Lhe Disse Haver Um A Divindade Capaz De Ajuda-Lo, E Que Deveria Procura-Lo Na Floresta Pois Lá Era Sua Morada Onde Vivia Sob Sua Proteção E Que Antes De Entrar Deveria Gritar Seu Nome “Katende”. Angorô Assim o Fez E Katende ofereceu Sua Ajuda Levando Todas As Cobras Para A Floresta E Quando Ia Alimenta-Las Assoviava Para Que Viessem Apanhar As Folhas E Frutas.
Algum Tempo Se Passou E Angorô Retornou A Floresta Para Ver Como Andava Seus Semelhantes, As Cobras, E Foi Ai Que Percebeu Que Algumas Tinham Adquirido Um Poder Mortal Através Das Folhas Que Katende As Alimentava, O Poder Era Tão Perigoso Que Podia Matar Um Homem Em Segundos E Elas Serviam De Guardiãs...
Angorô Então Emanava Móio Que Se Apresentava Em Forma De Colorido Por Todo O Corpo E Transferiu As Cobras Que Se Tornaram De Várias Cores, E Pediu As Guardiãs Do Poder Para Só Usarem O Veneno Para Sua Defesa E Que Dessem Um Aviso Antes De Desferi-Lo, E Até Hoje Os Homens Temem As Cobras Guardiãs, E Ninguém Deve Se Atrever A Assoviar Nas Matas Pois Elas Se Apresentam Pensando Que Katende Quer Alimenta-Las Com As Folhas Do Poder...
E Quando A Chuva Termina Angorô Morde A Terra Relembrando O Poder, E Todas As Cobras Saem Do Seio Da Terra Para Reverenciar Aquele Que Se Apresenta Majestozamente Colorido, E Muitas Vezes Retorna A Sua Primeira Morada Para Transportar Água Para Mametu Zumba Remexer A Terra...
COLETÂNEA TATA GONGOFILA

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

LENDA NKICE KAVUNGO - NSUMBO

Nsumbo Vermelho, Preto E Branco

Logo após o mundo ser criado por nzambi, zumbaranda volta ao duilo (céu) e se insinua a lembarenganga, mas o mesmo que desposava Kaiá não respondeu as insinuações. Zumbaranda então lançou mão de vinho de palma e logo serviu a lembarenganga que não demorou a cair nos encantos de zumbaranda.

Depois de haver conseguido o que queria zumbaranda desceu ao iungo sabendo que mesmo proibido levara consigo uma semente de lembarenganga, dirigindo-se ao norte quando em meio a sua jornada deu a luz a um ser do amor proibido.

Sabendo disto zumbaranda deixou o ser sob o sol escaldante e areia quente, lembarenganga que sempre consultava o oráculo através de nkuku-a-lunga, ficou sabendo que um ser havia nascido do amor proibido com zumbaranda. Lembarenganga então pediu para que Kaiá fosse ao encontro deste ser e o transportasse ao duilo, como a areia quente abrira varias chagas no pequeno ser lembarenganga pediu para Kaiá lava-lo e que daquele dia em diante se tornasse sua mãe criadeira.

Kaiá então sacudiu o pequeno ser pois muito pó havia em seu corpo e o lavou em suas águas... O que Kaiá não esperava é que o pó saído do corpo do pequeno ser caira sob o iungo dizimando chagas e fogo selvagem sobre os humanos que habitavam o iungo, pois anunciava a chegada daquele que era o dono da varíola.

Lembarenganga ordenou a Kaiá que mandasse água sobre o iungo, pois só assim aquela poeira acalmaria e a resistência da varíola diminuiria... Criado por Kaiá o pequeno ser se tornou bondoso e ao mesmo tempo temido por trazer marcas terríveis de seu passado.

Um dia desceu ao iungo (terra) pois queria ter seu próprio reino, e montou o seu exército vestindo-se de vermelho e fazendo expedições pelos 4 cantos do iungo destruindo tudo e todos que encontrava a sua frente, pois carregava uma lança feita de madeira que tornava cegas, mudas ou mancas quem por ela fosse atingida.

Seu corpo era tão quente marcado por chagas, que quando se lavava o vapor que saia do seu corpo logo atingia os seres humanos que se aproximavam.

Em meio a sua batalha por conquistas de terras, recebeu a notícia que sua mãe verdadeira aquela que andava acompanha da de cobras (talvez representavam as primeiras criaturas emergidas do seio do iungo) havia morrido, dizendo algumas palavras de descontentamento, passou sobre a sua roupa vermelha uma tarja preta em sinal de luto.

Ao norte vivia um povo que ao saber que se dirigia para lá o guerreiro que fazia sofrer não só o corpo, mas o espírito, pois a chaga que cobria o corpo daquele atingido pelo pó ou mormaço queimava até mesmo o seu interior.

Procuraram um sacerdote de nkuku-a-lunga e ele lhes disse:

- Façam uma oferenda de massango (pipoca) e o guerreiro se acalmará, o povo então fez a oferenda e saldaram a chegada do guerreiro que acostumado só a hostilidades e desconfianças, mandou construir um castelo e passou a viver em paz em meio a um povo que soube acolher e respeitar a sua força.

Sobre a sua roupa vermelha colocou outra tarja desta vez branca em sinal de paz. O pai da varíola teve a segunda geração que trouxe a desinteria, vômito, pragas incuráveis e inchaços que matam, a terceira geração trouxe a lepra que cortava as mãos e os pés...

E quando alguém morria de tais doenças seus bens e corpos passavam a pertencer aos seus sacerdotes.

Ficaram algumas proibições:

Não se deve ir ao rio quando o guerreiro estiver se lavando.

Não se deve sair ao sol do meio dia sem levar consigo um talismã.

Nunca ofereça a ele um antílope, cobra, carneiro ou sosogulo (peixe de escamas atravessadas), nem sirva para alguns de seus descendentes vinho de palma e galinha de angola.

Não sei quanto a vocês, mas eu vou manter sempre massango em meu abaça para acalmar este temível guerreiro.

Malembe tateto do iungo

Ke ambote insumbo

COLETÂNEA TATA GONGOFILA


quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

LENDA DE NKICE KITEMBU - TEMPO



Kitembu
Houve uma época em que as diembu bantu (tribos bantu) sofreram com a morte principalmente de crianças, e as mulheres com hemorragia não conseguiam parir.
O sobá (rei) então procurou o nganga ua ngombo (adivinho) e sugeriu que fizesse uma consulta através do minenge wa ngombo (cesto da adivinhação) para saber o motivo daquele sofrimento.
Nganga então obteve a resposta, as tribos bantu estavam sendo atacadas por mbungula (espiritos trevosos) e que deveriam prestar culto ao nkisi kitembu (nkisi da hemorragia da vida e da evolução) para que a vida voltasse ao seu ciclo natural, e o sobá imediatamente reuniu todas as tribos bantu que fizeram grande oferenda ao nkisi kitembu e da terra brotou um pó branco “pemba” que até hoje podemos ver em barrancos.
Pemba é o espirito do grande pai de todas as tribos bantu “nkuku a lunga” e esfregaram ao corpo aquele pó branco ficando livre de qualquer maldade e assim o povo bantu cresceu por toda a áfrica, e em homenagem ao nkisi kitembu levantaram um mastro bem alto com uma bandeira branca na ponta simbolizando “pemba” que quando balança com o vento mostra a direção que o povo bantu deve seguir para não ter sofrimento. Kitembu é simbolizado por uma grelha (suplicio, sofrimento) uma escada (crescimento, evolução) uma seta que aponta o duilo (fazendo uma ligação entre o céu e a terra), um ancinho instrumento agrícola próprio para juntar palhas (restos do suplicio humano) cabaça (masculino e feminino como conta a criação).


Acreditamos, cá entre nós, que pelo que conta a lenda, é que no Candomblé assentamos Kitembu representado nos seguintes SIMBOLOS, cuja interpretação dos mesmos é simples e coerente com essa lenda ancestral.

• O MASTRO ALTO COM UMA SETA NA PONTA (simboliza a busca da comunicação entre a terra e o céu)... A ponta da seta significa a persistência da busca pelo infinito a dentro.
• Uma BANDEIRA BRANCA simboliza os BAKULO (espíritos dos nossos antepassados que intercedem e interferem a nosso favor). A cor branca simboliza a espiritualidade, a energia pura. A ponta da bandeira indica o caminho a seguir...
• A ESCADA simboliza que a evolução humana é Lei da Natureza. Tudo tem que evoluir, porque nós humanos somos fadados à perfeição. Portanto, sendo a Terra um planeta de provação o melhor a fazer é tentar ser sempre melhor do que nascemos. Isso vale para todos os aspectos existenciais.
• O FOGAREIRO é o fogo universal, a centelha divina que está em tudo, queimando... transformando...
• A GRELHA simboliza o sofrimento, o suplicio humano... Que o ser humano vem para ser “assado” numa grelha até se “transformar”
• O RASTELO, instrumento agrícola, próprio para juntar palhas, simboliza que o tempo arrasta tudo... Inclusive os suplícios humanos... ou arrasta o próprio ser humano...
• O CIRCULO onde as cabacinhas estão penduradas, simboliza o ciclo existencial... a Vida.
• A KALABASA (CABAÇA) simboliza o Universo infinito, limitado no símbolo, de onde teve origem tudo que foi gerado. Portanto simboliza o poder gerador MASCULINO e o FEMININO.

Existe uma lenda bantu que conta que tudo teve origem do “saco da criação”, chamado FUCUM... É fácil constatar que um saco tem a forma de uma cabaça.

COLETANEA DE TATA GONGOFILA

LENDA NKICE KATENDE


Katende, se me alimento é graças a você

Nzambi ampungu (deus poderoso) que tudo criou, um dia ao observar os montes, vales e aguas, sentiu um enorme vazio. Então mandou chamar nkuku-a-lunga e disse consulte o oráculo pois quero povoar a terra de homens e mulheres para que se multipliquem. Nkuku-a-lunga disse que para sobreviverem teriam que se alimentar, então nzambi ampungu pediu para nkuku-a-lunga ir ter com os Nkices qual deles saberia dizer o que seria dado aos homens para se alimentarem. Pambu njila (o senhor dos caminhos) disse que sabia e quando os homens chegaram para povoar o iungo (terra), pambu njila deu a eles madeira para comer, não demorou e logo os homens voltaram para duilo (céu) e disseram a nzambi que todos tinham morrido pois comeram madeira e as suas barrigas furaram. Então caiaia (senhora das águas do mar) disse que sabia como alimenta-los e retornando ao iungo os homens receberam menha fresca para beber mas em pouco tempo estavam de volta para duilo, nzambi perguntou o que aconteceu e os homens disseram que caiaia lhes deu tanta menha (água) que eles derreteram. Nzambi então disse oiué (assim seja) e tomou uma decisão, que os homens habitassem o iungo e só retornassem ao duilo depois de terem tido uma vida de alegrias e tranqüilidade deixando filhos e netos no iungo...

Nkuku-a-lunga consultou novamente o oráculo e falou a nzambi que no duilo havia um Nkice que se portava estranhamente carregando com sigo muitas cabaças contendo sementes e grãos. Nzambi chamou este Nkice a sua presença e disse a ele o que estava acontecendo e ordenou que semeasse o iungo, este Nkice que se portava estranhamente carregando cabaças começou a jogar as mesmas no iungo e delas se espalharam sementes e grãos, nasceram macunde (feijão), calosó (arroz), disá (milho) e lúmbua (cebola) filossu (legumes) e todo tipo de vegetação. Enquanto jogava as cabaças caiu e como um ser da terra sem pai nem mãe brotou entroncou e encheu de folhas, enquanto os homens povoavam o iungo em definitivo onde viveram felizes e tiveram muitos filhos...

Nzambi feliz então disse logo mandarei kiama (animais) e os seres humanos sacrificarão para todos os Nkices durante os ebós e compartilharemos o alimento com muito catulê (respeito) e nguzu (força).

Por este motivo que na áfrica o homem acorda pega um pedaço de pau chamado pako esfrega nos dentes substituindo a escova, depois enxágua a boca com água fresca e vai se alimentar chamando os Nkices para compartilhar da sua comida...

Puxa mas quem era aquele ser estranho que carregava cabaças e caiu no iungo?

Será que em nossas visitas as matas para colher unsaba zambiri (ervas sagradas) já colhemos folhas dele sem te-lo reconhecido?

Será que nos lembramos de fazer oferendas para aquele que soube como nos alimentar?

Será que respeitamos a sua morada?

Será que nos sentamos a sua sombra e nem percebemos que estávamos a seus pés?

Será que lembramos o seu nome?

Será? Será? Será?

Uma coisa é certa, ele continua nos alimentando, nos curando e como por encanto ele sempre está perto quando precisamos de uma boa sombra para descansar...

Ke ambote katende

Zambi a quatessá

COLETÂNEA TATA GONGOFILA

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

LENDA NKICE MUTALAMBÔ E NGÒBILA



Mutalambô Descobre O Segredo De Mukila Mpakasa


Jikabila todos os dias levava os mpakasa (boi do mato) para pastar e notou que algo de errado estava acontecendo, pois cada vez que atravessava a floresta um de seus mpakasa desaparecia e o que se ouvia eram gritos roucos e assustadores. Então chegando a aldeia falou com o mukongo mutalambô que logo saiu a caça deste animal feroz que emitia sons roucos e devorava os mpakasa deixando apenas a cabeça.

Quando chegou a floresta mutalambô contava apenas com a proteção de um amuleto que havia ganhado de um ser encantado da floresta com o nome de aroni, batendo nas árvores afugentava npanzo (espírito que mora nas raízes das árvores) procurou por vários dias e noites e nem sinal do feroz animal, foi então até a beira do rio se lavar, lá chegando viu um ser meio gente e meio cobra, logo lançou mão de suas armas e com tal destreza apontou para o ser, mas no momento de atirar soou um eco e a terra enlameada se abriu.

Da mesma surgiu mametu zumba que impediu mukongo mutalambô de concretizar sua caçada. Pois o ser que estava na água era angorô que ao perceber o perigo se escondeu por de trás das nuvens. Local também de sua morada (ora nas águas, ora nas nuvens) então mametu zumba pérguntou a mutalambô: porque queria matar angorô. E este relatou o acontecido referente aos mpakasa de jikabila. E com a promessa de que não atiraria em angorô, mametu zumba pediu que mutalambô viesse junto com jikabila trazer os mpakasa para–bila (pastar) e quando escutassem o som rouco na floresta olhasse na água do rio e lhe seria revelado o verdadeiro culpado. Assim fez mutalambô, e quando escutou o som rouco olhou para as águas e no reflexo viu um ser vestido de vermelho. Era o nono filho de nbana. Mutalambô percebeu que ele andava por detrás das árvores esperando o momento de atacar os mpakasa pois cada vez que mpakasa balançava a cauda o nono filho de nbana corria espantado. Percebendo isto mutalambô se apoderou de um rabo de mpakasa e pediu para jikabila balançar toda vez que escutasse a voz rouca. Então nunca mais sumiram os mpakasa dentro da floresta. Não contente com a situação mukongo mutalambô se pôs em perseguição ao ser de voz rouca e vestimenta vermelha e com o rabo do mpakasa o dominou, certo que iria mata-lo armou seu golpe e rápido como um relâmpago entre eles surgiu uma bela mulher que pedia pela vida do filho. Era ela nbana linda e graciosa, então explicou a mutalambô que às vezes perdia o controle sobre o filho e o mesmo atacava rebanhos e pessoas. Mutalambô encantado pela beleza de nbana revelou a ela o segredo do rabo de mpakasa e esta passou a ter domínio total sobre o filho que em agradecimento passou a viver com mutalambô.

Mas isto é outra história... O certo é que todo bom pastor protege seu rebanho com mukila (rabo) de mpakaza (boi do mato)...

COLETÂNEA TATA GONGOFILA


Encontro Com Os Antepassados

Mukongo mutalambô como de costume havia adentrado as matas para mais uma caçada, pois dele dependia a maior parte do sustento da tribo, ao entardecer mugongo mutalambô percebeu a floresta diferente, havia uma névoa e os espíritos da floresta gritavam como se estivessem atendendo um chamado. Matalambô então de posse do rabo de boi do mato, mantinha os espíritos dominados, e com a chegada da noite a floresta ficou mais fria associada a lua.

Mukongo mutalambô ficou perdido por vários dias na floresta e sem o que comer já estava fraco, então começou a imitar canto de pássaros e gritos de feras para atrai-los na intenção de se alimentar, quando se viu envolvido por uma nuvem de abelhas que o conduziu até uma árvore magestosa, que ele nunca havia avistado e foi recebido por um antepassado mukongo de elefantes, mukongo mutalambô tratou de interrogar o homem de porte magestosa: o que está a acontecer?

E respondeu com voz firme e olhar penetrante: sou seu antepassado familiar.

E sem perceber fez um élo conosco, pois usa um rabo de boi do mato que significa tudo que ficou para tráz (o passado o espírito dos mortos), através dele nos comunicamos pois é um símbolo de realeza, de nós antepassados familiares, e explicou para mutalambô que naquele local deveria construir uma fortaleza onde deveriam cultuar seus antepassados familiares, e naquele momento mostrou o interior da árvore para mutalambô que continha um esqueleto do elefante mais velho da floresta e uma seiva que serviu de alimento a mutalambô. Era a comunhão com os antepassados e a ele foi dito: esta seiva (mel ) que apenas será servida a todos em louvor a nós antepassados ficará guardado pelas abelhas que servirão de mensageiras, pois elas significam a força feminina como a árvore que cedeu suas entranhas para ser depositado a seiva ( mel o alimento dos reis ), esta árvore significa sua mãe, e o elefante dentro dela o símbolo de realeza, e foi assim que mutalambô teve sua primeira experiência com os antepassados . E até hoje divide o mel com os filhos para lembrar os antepassados familiares. E só nesta ocasião lhes é servido o mel, que até mesmo para mutalambô se torna difícil a colheita, pois se não tivesse em mãos o rabo de boi do mato para afastar as guardiãs, não chegaria até a seiva...

COLETÂNEA TATA GONGOFILA


Ngòbila

Logo ao raiar do dia kissimbi se banhava no riacho mirando-se no espelho, pois antes de atender qualquer chamado se pintava e lustrava suas jóias e coquete como ela só, sempre se apresentava com uma beleza incomparável que poderia encantar até os pássaros da floresta, e não foi diferente com mukongo mutalambô, que ao ver kissimbi como por magia ficou encantado aproximando-se para apreciar tamanha beleza.

Kissimbi percebendo sua aproximação teve a visão de um caçador forte e viril que também a encantou. Então várias vezes mukongo mutalambô se aproximava da beira do rio para ver sua amada e quando não a avistava tocava sua trombeta feita de chifre, que carregava sempre consigo, avisando de sua chegada. Kissimbi então deixava seu reino e se entregava ao amor de mutalambô, que gerou um filho, mas como kissimbi não podia mante-lo em seu reino pois o mesmo era composto apenas por mulheres e a presença de homem era proibida, levou o filho nos braços até a margem e entregou aos cuidados do pai mutalambô.

Mutalambô adentrou a floresta com o filho nos braços, onde o criou e ensinou a arte da caça, foi quando passou a ser chamado de "ngòbila o caçador que se vestia apenas de tanga", era um eximio caçador e suas presas preferidas eram as aves por apreciar sua carne. Um dia ao perseguir sua presa se deparou com lindas mulheres que se banhavam no riacho, encantado com a beleza ngòbila passou a freqüentar o riacho todos os dias pescando e assim podia observar a beleza ali encontrada. As mulheres então informaram kissimbi que um homem todos os dias às observavam. Kissimbi então saiu de seu reino e veio até as margens do rio, logo que avistou o caçador reconheceu seu filho chamado ngòbila pelo pai, kissimbi ficou sem palavras e ngòbila sentiu o mesmo diante de tanta beleza, por um minuto se olharam e kissimbi percebeu que a vestimenta do filho era apenas uma tanga e vaidosa como ela só ofereceu um presente a ngòbila que nada entendeu.. Kissimbi desceu até o fundo do rio e trouxe uma armadura muito antiga e a lustrou presenteando ngòbila, logo em seguida voltou para o reino de seu pai vestido de bela armadura que agora o protejia na floresta, então relatou o fato a mutalambô que lhe revelou o segredo de seu nascimento e presenteou o filho com a sua trombeta de chifre dizendo: todas as vezes que quizer visitar sua mãe, toque a trombeta as margens do rio e ela virá a seu encontro. E toda vez que a trombeta é tocada kissimbi vem até as margens do rio para ver "terekumpenso – o pescador” seu filho e lustrar sua armadura... Ngòbila assim chamado por mutalambô quando está na floresta, recebe 21 kisaba (folhas) do pai e 16 da mãe. Terekumpenso chamado por sua mãe quando está a pescar na beira do rio, recebe 21 kisaba (folhas) da mãe e 16 do pai. Muitas vezes por sua armadura é confundido com incoce...

COLETÂNEA TATA GONGOFILA