01.Nileodun; 02.Dundurê; 03.Meximaville;
04.Jamukangue; 05.Pambu-njila; 06.Uembesila; 07.Lajakala; 08.Uesaba;
09.Tambala; 10.Zunga Ao To; 11.Mukusete; 12.Tunde-Tunde; 13.Tundaé;
Como
todo disco da TBS, muitos criticam a qualidade de áudio. E como sempre,
nós dizemos que a TBS sempre fêz um bom trabalho de divulgação em suas
produções que já se tornaram emblemáticas. Aproveitamos esta postagem -
como sempre fazemos - para falarmos um pouco de nossa vivência com os
cultos Angola/congo.
Muitos irmãos nos
escrevem em PVT, ou nos perguntam na FTU - depois dos ritos - sobre as
nações Bantu e os cultos Angola/Congo e mesmo Cabinda. A vivência que
tivemos nesses cultos (além de informações familiares) foi feita com Mãe
Maria Helena Batista (Taualuangi), que foi nossa mãe de santo antes de
conhecermos Mestre Arapiagha. Ela foi feita no Omolokô mineiro, mas teve
sua iniciação primeiramente na Angola por ancestralidade do Tumbensi e
na Umbanda via terreiro do famoso Sr. Caboclo Inko, grande referência da
Umbanda paulista nos anos 30/40.
Por
isso apenas apresentaremos um estudo feito com base em nossa vivência
sobre a religiosidade Bantu na África e suas decorrências no Brasil.
Assim, pretendemos contribuir com o nosso passado para quem quiser saber
destas informações, que evidentemente podem ser completadas e mesmo
corrigidas por outros irmãos.
Na
verdade são vivências que por nós estiveram “congeladas” por muitos anos
até nosso mestre “retomar” algumas práticas rituais que são hoje
realizadas na OICD e a ele agradecemos por validar essa nossa vivência
em outras escolas com o sentido depurado de conexão mais lídima e sem
conflito com as tradições que nos relacionamos hoje. Como o assunto é
muito extenso, utilizaremos esta postagem para dividirmos um pouco nosso
vivencial. Como todo conhecimento digno de lembrança aqui está somente
um tanto de idéias daquilo que aprendemos nos outros. E por lembrarmos,
deixamos a quem refletir, após a leitura, o passar adiante após uma
importantíssima consulta nos nomes ao final do texto.
SOBRE AS LÍNGUAS BANTU
O
termo Bantu foi utilizado pela primeira vez por Willelm Bleek, filólogo
alemão, para caracterizar e definir as línguas africanas que utilizam a
palavra “MU-NTU (pl. “BA-NTU”) para designar a pessoa humana. Nessas
línguas, agrupadas sob o termo genérico “BA-NTU” o radical é “NTU” e o
prefixo plural “BA” – Lembrando que “Ba” é utilizado como plural em
várias línguas pré-históricas, pois “Ba” refere-se ao número 2 e possui a
capacidade de duplicar a natureza do verbo e da ação. É por isso que,
arqueometricamente, “BA” concentra em si o “Y”, dando, por exemplo,
origem à lenda do “Beth-EL” em hebraico, como a Morada da Divindade.
Outros
filólogos, como Joseph H. Greenberg (que foi o primeiro a identificar
os limites dessa família, que ele chamou de línguas nigero-cordofanianas
em seu livro Languages of Africa) e John Bendor-Samuel (que introduziu o
nome nigero-congolês para toda a família, o qual está atualmente em uso
até hoje entre os línguistas) após anos de estudo encontraram relações
importantes entre os vários dialetos africanos. Um dos maiores avanços
no estudo das línguas subsaarianas veio com o trabalho de Koelle, em sua
obra “Polyglotta Africana” de 1854 onde tentou uma classificação
cuidadosa em grupos, contribuindo em muito para a classificação moderna,
embora o primeiro registro das línguas nigero-congolesas como uma
família linguística pode ser encontrada no próprio Bleek (1856), que
percebeu que as línguas atlânticas usam prefixos tal como muitas línguas
do centro africano. Algumas décadas mais tarde, o trabalho comparativo
de Meinhof, estabeleceu as características que reconhecem nas línguas
Bantu uma unidade linguística.
As línguas Bantu constituem por volta de 500 línguas aparentadas, como demonstrou Meinhof, línguas essas faladas por povos negros que vivem na África sub-saariana e por ilhas culturais no sul da Índia (vejam texto sobre a Índia negra em nosso blogue). Compartilham de um tronco lingüístico comum, o Proto-Bantu. Assim, quando nos referimos aos Bantu, nos remetemos a povos e etnias cujas línguas têm um tronco comum e não a povos com traços raciais próximos. O que liga os Bantu entre si é uma língua oriunda do mesmo tronco e que são gramaticamente aparentadas, pois, em todas elas as palavras são agrupadas por classes em função de seu uso e natureza.
O
universo Bantu ocupa grande parte do continente africano, do centro em
direção ao sul, sendo uma família lingüística utilizada por milhares de
falantes. Foram os Bakongos e os Ambundos os dois povos que vieram em
número mais expressivo para o Brasil, e que aqui deixaram sua marca,
assim como em toda a América, continente que ajudaram a construir. Eram
numericamente superiores e por isso imprimiram suas características
culturais a outros povos Bantu (como os Kassanje, Benguela, Moçambiques,
Makuas, Kabindas, Munjolos etc) que chegavam em menor número.
Suas
línguas eram o Kikongo e o Kimbundo, faladas respectivamente, pelos
Bakongos (Bakongo = plural de kongo) e pelos Ambundos. Os Ambundos são o
segundo maior grupo étnico de Angola e os Bakongos o terceiro. O
primeiro grupo é o dos Ovimbundo e falam o Umbundo. No Brasil,
principalmente no candomblé Congo-angola se faz ainda uso dessas línguas
que vieram com os africanos. O Kikongo e o Kimbundo são as duas línguas
mais usadas nos rituais e no cotidiano das casas de santo de raiz
Congo-angola (a possível exceção seria a nação Cabinda no sul do país,
mas a língua ritual que utilizam é o Yorubá de origem Ijexá). Atualmente
são utilizadas como veículo de comunicação em Angola, nos dois Congos, e
em países limítrofes.
Muitos dos
africanos deste grupo quando aqui chegaram já vinham cristianizados,
pois o contato deles com os portugueses aconteceu ainda no século XV.
Alguns eram realmente convertidos, diferentemente de outros que eram
católicos apenas por batismo obrigatório – prática usada no interior dos
navios negreiros com anuência da igreja - mas muitos por devoção por
terem se convertido ou pelo menos tido algum contato com o cristianismo
em suas terras de origem, ou ainda em Portugal, onde havia também havia
milhares de escravos e onde muitas manifestações culturais brasileiras
tiveram origem, tais como as Congadas. Aqui estão as raízes do Omolokô:
em Portugal e não no Brasil. Mas este é um outro assunto que por hora
não abordaremos.
AS DIVINDADES PARTE 1
As
divindades que chegaram ao Brasil são conhecidas como Bakissi (plural)
ou Inquisse (singular). Há ainda algumas casas que os definem como Akixi
ou Mukixi (mascarados), lembrando que nos cultos Bantu originais há a
presença de máscaras rituais (bem diferentes dos cultos Yorubás) e de
assentamentos e fundamentos feitos somente em barro ou madeira, já que a
cultura religiosa Bantu (e mesmo a Yorubá) desconhecia a louça, que foi
introduzida no culto – assim como as roupas de renda, inclusive nos
cultos Gêge/Yorubanos – por influência cultural Européia. Enfim, temos o
termo Akixi para os Ambundo e Nkisi para os Bakongo.
O
Inkissi só recebe esse nome quando se particulariza no transe ou no
assentamento, feito em um cesto ou em um boneco, em geral cheio de
pregos (símbolo do poder coletivo da comunidade) e com a barriga furada
onde são colocadas as ervas e o fundamento secreto de cada divindade.
Antes desse processo de individualização, eles são chamados de Hamba, em
seu estado não diferenciado.
Vários povos
Bantu reconhecem em geral o culto ao Inquisse, aos Nkita e aos Simbi.
Estes dois últimos referem-se a divindades terrestres (Nkita) e fluviais
e marítimas (Simbi). As qualidades e funções desses espíritos, quase
sempre protetores, varia de povo para povo, sendo que entre alguns o
Nkita é sempre agressivo, enquanto que para outros a agressividade cabe
ao Simbi. Para uns o Simbi é aquático e o Nkita terrestre ou vice-versa.
Apenas para os três povos de Cabinda, cultuadores do Nkissi é que estes
sempre são benéficos, com exceção do Nkondi e do Nkossi, que são por
sua vez, utilizados pelos Bandoki para feitiçaria. Afora estes, todos
tem o poder benevolente de curar, trazer prosperidade, colheitas fartas e
chuvas benfazejas. Os Nkita, os Simbi e os NKissi fazem parte do
cotidiano desses povos e os ajudam a vencer as batalhas do dia-a-dia.
Para
os Bauoio (Woio, singular) os Simbi exercem um papel subalterno, pois
são como crianças enviadas dos grandes espíritos da terra, os Bakissi ba
si. Aí está uma das origens da ligação dos espíritos de crianças (os
kafiotos, candengos ou monandengues na Angola que são confundidos com os
Erês da nação Ketu, embora os Erês sejam uma categoria de divindades
completamente dissociadas de todas as outras, que pouco tem a ver, como
muitos pensam, com o orixá Ibeji) com as divindades fluviais e
marítimas, como Dandalunda, Kaia, Kissimbi e outras.
O
elemento principal da representação do Nkissi é uma pedra, retirada do
leito de um rio, por pessoas em transe com o espírito. Essa pedra é,
quase sempre, colocada num cesto, acompanhada de pemba, argila vermelha,
pó de tacula e outras especiarias, tudo regado a vinho de palma e Menga
quando a divindade assim o pedir.
Nas
tradições do Palo Congo (Cuba) o Nkita é reconhecido e cultuado e no
Haiti há o culto aos Simbi. No Brasil apenas o Nkissi é cultuado, sendo a
única referência ao Nkita que conhecemos, são informações nos dada por
Tata Tawá - quando o conhecemos no Alayandê Xirê - que é membro da
tradicional casa do Bate-Folha de Salvador-Ba. O Simbi aparece em
algumas cantigas, mas nem sempre é notado pela maioria dos fiéis e sua
única ligação é com Kissimbe, um importante Nkissi das águas doces.
Assim
os cultos Bantu podem ser definidos – imprecisamente, dada a grande
variação religiosa e ritualística existente nesses inúmeros povos – da
seguinte forma:
1) Zambiampungu, Nzamé,
Zamby e outras centenas de designações, sempre com os radicais “Zam”
(nas línguas antigas representa o Sol. Por ex: Sabeísmo, palavra persa
surgida da raiz “ZAAB”, significando Deus, divindade, de onde provém
todo saber) representando o Deus supremo;
2) Os Hamba (Ou Nkissi, quando individualizados), que são as grandes forças ctônicas, formadoras do universo;
3)
Os espíritos elementais da natureza, como os Simbi e os Nkita, sendo os
primeiros espíritos aquáticos e os segundos espíritos terrestres;
4) Os espíritos dos antepassados, tanto os bons (os Bakulu) quanto os maus, (os Matebo ou Nkuyu).
Os
Inquisse se dividem em famílias, ou seja, não são agrupados em
categorias de uma mesma divindade com várias características como
acontece com as divindades Yorubá, ou como fazem os Fon, com seus reis
divinizados. Assim, vamos encontrar várias divindades aparentadas, com
culto e fundamentos específicos e diferenciados. Começaremos com as
divindades dos caminhos e das encruzilhadas, que como verão, são várias.
Lembrando novamente que estas são as divindades que conhecemos em nossa
caminhada pessoal pelos terreiros que conhecemos e pela vivência com
nossa primeira mãe de santo, Maria Helena Batista, que era feita em
Angola aliado a nossos estudos sobre a religiosidade dos povos Bantu da
África.
Por isso muitos destes Inquisses
podem ter nomes derivativos da cultura Yorubá, pois como bem sabemos, o
culto Angola/Congo tomou como matriz o formato de cultos yorubano e os
adotou em seus ritos próprios, na verdade configurando as matrizes das
genuínas manifestações religiosas brasileiras. Em outros discosde outras
divindades continuaremos com as famílias de outros Bakisse...
Família das Divindades Das Encruzilhadas - Bakissi Da Ingestão E Restituição
Cor:
cinza e o azul escuro (ou ainda o roxo) e em algumas tribos, o branco
transparente, simbolizando a água (o vermelho e preto é uma influência
dos ritos Nagô, não são cores deste Inquisse nos cultos Angola/Kongo em
sua origem. Lembrando que há seguimentos da Umbanda – nossa escola mesmo
(!) - que se utilizam destas cores para identificar os
espíritos-guardiões)
Pambu Njila, Mpambu Njila, Bambogira, Kongogiro, Ganga Pambuguera, Pangira, Ungira, Ungila
Pambu Njila, Mpambu Njila, Bambogira, Kongogiro, Ganga Pambuguera, Pangira, Ungira, Ungila
Alguns
autores – dentre eles Nei Lopes - registram e dão a sua origem como do
Kikongo e do Kimbundo com ligeiras variações em seus nomes
(provavelmente fruto da mistura de diversas etnias que pronunciavam de
modo diferente um nome comum à mesma divindade), na África, no Brasil e
em Cuba, no Haiti e em outros países americanos, como a Colômbia e a
costa dos EUA. Na verdade, “Mpambu” tanto em Kimbundo quanto em Kikongo
significa cruzamento, encruzilhada (sendo que, em Kikongo, há a tradução
de “Mpambu” como portão, ou local fechado), e “Njila” significa rua,
caminho.
Por
extensão, atribui-se em Angola esse nome aos homens andarilhos, os
“homens da rua”. O nome “Pomba-Gira” já possui uma relação mais complexa
e profunda com o “Pambu Njila” Bantu, acrescido de outras informações
que vão de mitos europeus, persas e até indígenas, que, se der, um dia
coloco aqui. Sem nenhuma variação mítica, em todos os povos Bantu, a
encruzilhada é o umbigo do mundo, o início dos tempos primordiais onde
tudo teve começo, o ponto de onde surgem as quatro retas que constroem a
encruzilhada. Nzambi criou o mundo a partir desta cruz e colocou Mpambu
Njila como o senhor absoluto desses caminhos, fazendo-o segurar os
quatro gomos principais do Ngombo (jogo divinatório Bantu, equivalente
em importância ao Opón dos Sudaneses – para que Kukiakalunga (Uma
emanação de Nzambi. Kukiakalunga é o “Pensador Angolano”, equivalente ao
Orunmilá Yorubá) pudesse vaticinar os destinos do mundo. Mpambu Njila é
o guardião por excelência.
Aluvaiá
Aluvaiá
em Quicongo fonetiza-se “Alu-Vuya”. Algumas nações, como os Tio e os
Shona fonetizam Alu, ou Lalu. É uma divindade do Congo. Nas casas
Angola/Congo, normalmente as cantigas referentes à Aluvaiá são entoadas
em português. É o Inquisse da herança espiritual, da continuidade dos
valores. É a divindade que faz os acordos com o inimigo, se fazendo
passar por ele, sendo um senhor da infiltração. É quem fecha os acordos e
os favorecimentos no terreno da magia.
Mavambo, Mavangu, Marambo, Marabu, Malagô, Navango, Igo Mavan, Marabô, Jiramavambo
O
Senhor do Barro, o Conquistador! Nascido dos sonhos de Nkoce. Quando em
suas andanças, Nkoce parava para dormir nascia um montículo de barro
onde Nkoce colocava sua cabeça. Pela manhã, nesse monte, a cada dia
nascia um Mavambo, para vigiar os caminhos dominados pelo vencedor dos
Leões. Em várias regiões da África, os muçulmanos eram chamados de
Marabu, em alusão ao fato de terem sido conquistadores em várias partes
do continente. Há ainda, o termo Barabô, numa clara fusão do Jeje e do
Cabinda nos terreiros do sul do país.
Sinzamuzila
O
Inquisse que recebe o poder das bebidas que são colocadas na casa de
fundamento e nas tronqueiras. Aquele que é sempre seco e que recebe a
“Marafa” na cuia de cabaça no ritual propiciatório das escolas
Congo/Angola, quando se envia o Sinzamuzilla para a porta. Do quikongo
“Sanzala”, bêbado, trôpego.
Malungo
O
Inquisse que acompanha as pessoas durante toda a vida. Aquele que envia
seus “fantasmas de proteção” (Zumbikukulu) para acobertar quem entra e
sai do terreiro, quem nos protege da morte; Aquele que livra do
sofrimento. Entre os Lundakioko, “Ma-lunga” homem, amigo etc. Do Kikongo
“Lungo” (Ma-lungo, plural), morte, dificuldade.
Jujuku
Aquele
que faz magia de morte. Ainda que a palavra “Jujuku” seja uma palavra
provavelmente Yorubá (“Juju” = magia com objetos; + “Iku” = morte) que
deve ter sido aprendida pelos descendentes Bakongo, este Inquisse é
utilizado para feitiços e para tormentos onde são usadas coisas pessoais
daquele que se pretende agredir magisticamente.
Kijanjá, Kujanjo
Inquisse
da matança e da Lua. É aquele que recebe as oferendas de todos os
outros Inquisse e faz a transmissão do poder das oferendas a todos do
terreiro. Por isso as matanças são feitas com os animais em ciclos que
obedecem às fases lunares. Do Proto-Bantu “Kijan”, Lua, usado ainda hoje
pelos jongueiros do Brasil como “Quijama”.
Mavilutango
O
Inquisse da dança e do movimento, dizem as lendas que ele é que dá ao
ser humano, através da dança, a capacidade de se relacionar com o mundo,
com os vivos e os mortos. Por isso é ele quem se encarrega de levar o
“Padê”. A palavra “Tango” vem do quibundo “Tangu”, significando pernada.
A dança argentina de mesmo nome provém dessa mesma raiz Bantu, cujas
origens foram praticamente esquecidas por lá.
Burungangi
Inquisse
dos Bakongos, conhecido como “Mbulu” ou “Mbulunganga”. Há uma expressão
em Bakongo que significa “Grande força” (Mbulu-nguzu, embora esta
palavra se relacione mais com o Inquisse Burugunzo). É aquele que
acompanha Biolê e é assentado nos trilhos e nas ferrovias. Nesse caso,
este Jila descreve-se como “Mbulu-Nganga”, “Poder do Ferro”. A palavra
“Nganga” aponta para termos Bantu relacionados a “derreter”, tais como o
quicongo “Kanga” ou o Quioco “Nganga” (metal fundido), e finalmente ao
Bantu genérico “Ngangula” (ferreiro). Associa-se ainda, ao Bantu
multilingüistico “Nganga”, significando feiticeiro.
Bionatan
Inquisse
patrono da alegria. Recebe doces e flores. Algumas traduções do
Quimbundo indicam essa palavra como “risada”, bem ao estilo dos Njila.
Mas há ainda, traduções do Quicongo: “Mbyantunda”; “Ntunda” – Monte,
colina; “Mbya” – coquinho de palmeira, talvez uma aproximação deste
Inquisse com o Exu yorubano nas questões dos métodos divinatórios.
Sigatana, Singangara, Siganga, Gangaiô
“Singa”
– nome que se dá à vara do canoeiro. No quicongo “Sinda”, se traduz
como ir ao fundo d’água; no umbundo “Sinda” refere-se ao ato de empurrar
associado ao multi-Bantu “Nganga” – feiticeiro, traduz-se
aproximadamente como o feiticeiro que habita o fundo das águas. De fato
esse Njila associa-se a Zumbarandá e Kissimbi nos assentamentos destes
outros MiInquisse. É invocado simbolizada pelo egan (gorrinho em forma
de cone), e pela pena vermelha do papagaio.
Tibiriri, Tonã
Encontra-se
menção a este Inquisse nos rituais Angola, embora seja óbvia a sua
relação com o Tiriri dos Yorubá: “Ti” – Grande Força; “Riri” – Valor,
traduz-se como “Valoroso”. Igualmente Tonã parece relacionar-se com o
Lonã (Caminho) Yorubá. Resta descobrir se houve uma aculturação do Nagô
sobre os rituais Congo/Angola, ou se na própria África essa divindade se
espalhou por várias regiões. Há ainda a o termo Tupi Tiriri (nome de
uma ilha), originado de su-y-ry-ry, que significa "pássaro que faz
barulho”. Interessante é que em alguns totens deste Inquisse há um
pássaro esculpido e ainda, na Umbanda, Tiriri é o guardião de
Yori/Ibeji/Oxum (yabá dona de um pássaro), cujo sinal cabalístico de
pemba representa hieraticamente, um pássaro. E, finalmente, encontramos
na Cabala hebraica o termo “Tirirel” como o demônio guardião de mercúrio
(planeta de Yori). Vai saber...
Ngambe, Ingambeiro, Engambeiro
O
termo engambeiro ou engambelo é comumente usado pelo Povo-de-Santo como
verbo, na flexão engambelar, o que aproxima este Inquisse da
representação de Trickster do Exu yorubano. No Umbundo diz-se “Uyambelo”
como o presente que se dá ao curandeiro, o que originou, possivelmente a
palavra engambelar - de uso nos terreiros quando se dá uma oferenda de
paliativo ao “santo” até que se possa dar outra melhor. O povo Ganguela
diz “ndambelo” como aquela porção que se dá a mais do que se promete
como “agrado” em troca de um favor. Os Soto dizem “Kabelo” com o sentido
de contribuição. Ngambe é o nome de um Inquisse onde em sua barriga
colocam-se moedas, notas (na antiga África usava-se búzios, marfim e
cobre) e outros objetos de valor.
Etajelungi
Mais
um Njila que nos parece uma somatória brasileira do fundamento das
qualidades de Exu com o de algum Inquisse Congo. “Etá” em quicongo
traduz-se como pênis ou como qualquer objeto que lembre o falo. É
acrescido, talvez da palavra yorubana “Ijélu” – “I” – (Aquele que); “jê”
(é); “Elú” (Índigo, a planta que produz a tinta chamada “Arô” para
fazer o “Wáji”, que representa o preto nas pinturas rituais. Entre os
Bakongo a representação do falo de alguns Njila é pintada com a cor
azul, assim como dissemos na abertura, sobre os Pambu Njila e a
influência ritual Yorubá.
Korobo
O
Pambu da folha, espécie de “Aroni” angolano, portador da enxada, foi
quem ensinou os homens a plantar. É o guardião da “Kisaba Kiasambuka” do
Inquisse Katendê. Em quicongo encontramos a palavra “Kulumba”, como
“homem rude do mato”, que vaga pelas estradas e “Kuluba” como “enxada
velha”.
Niquerô
Inquisse
que recebe as oferendas dos Minquisse caçadores. O guardião da fartura e
da distribuição de força vital para o terreiro. Em quicongo, “Ndiiki”,
aquele que alimenta.
Dundo Salunga, Dundo Calunga
Inquisse
do mistério, Pambu do silêncio, o grande peixe que leva as pessoas para
o infinito. Sua representação é a de um peixe de madeira onde se
colocam mensagens e objetos para os que se foram. Dundo em quicongo é
“Ndundu” e refere-se ao peixe Seese. Calunga vem do termo
multilingüístico Bantu “Kalunga” que traduz a idéia de grandeza,
eternidade, vastidão. Pode ser tanto identificado com o céu e o espaço
infinito como com o mar. Kukiakalunga é o Inquisse pensador dos
Angolanos (do verbo “Oku-Lunga” – ser esperto), o patrono do jogo
Ngombo. No Brasil o termo se ligou ao cemitério e à morte, pois muitos
escravos morriam no mar antes de aqui chegarem, embora a idéia de
eternidade ainda assim, tenha relação com o local onde habitam os mortos
Naban, Nabondo
Inquisse
guardião das árvores. Representado por um pássaro (!). Conforme o
quikongo “Na-mbondo”, uma árvore, o embondeiro. Divide seus poderes com
Nkondi – Inquisse da família de Nkoce - esta árvore é cultuada
principalmente para o feitiço. O embondeiro tem forma de garrafão, e é
chamado de “Nkondo Ikuta Mvumbi” (Embondeiro do morto gordo), por que a
pessoa contra quem se faça o feitiço, contra quem se prega o prego,
morrerá gordo, inchado como o embondeiro. Conforme o prego usado, o
efeito, segundo o povo de Cabinda, será mais ou menos imediato, se for
de ferro, de cobre ou de alumínio.
Ingué, Izangué, Yanga
Entre
os Tchokwe encontramos a divindade Yanga, fonetizada como Yangue em
outras tribos do norte de Angola. A lembrança da relação do nome com o
Exu Yangi dos Yorubanos é inevitável. No Brasil e em Angola Ingué e
Yanga compactuam do fato de não beberem cachaça nem dendê. Veste-se de
branco. Na África, como no Brasil, quando está possuindo alguém, não
come nada vermelho.
Malusibango
Encontra-se
referências rituais de um Inquisse da fortuna em Angola, chamado
“Luo-Mbangu”. E encontramos a palavra “Mbangu” em quicongo significando
“benesses” ou “ganho”.
Apavenã
É
o senhor das oferendas, o portador e o mensageiro. É sempre o primeiro a
ser invocado. É o dono do dendê, por isso o carrega na peneira, segundo
dizem...
Imbeberiquiti, Imbeperequeté
Inquisse
guardião das portas das casas. Seu nome refere-se a alguém sentado, ou
baixinho, provavelmente em alusão a postura que assumem as pessoas que o
incorporam na África. Do Umbundo “Velekete”, pessoa de estatura baixa,
ou alguém de cócoras/sentado.
Manawelé, Mawe, Mavilê
Maville
é um dos nomes associados a todos os Njila. Mavile vem do Umbundo
“Omavele” ou do Quicongo “Mavele”, plurais de “Avele” que significa
leite, provavelmente alusão ao poder de ligação destas divindades
guardiãs com o poder criador do esperma.
Kunkurunguanje
Inquisse
da palavra e da invocação, das poesias e dos Jamberessu. O que fala
pelas outras divindades. Do quicongo “Nkunga”, canto, poema, palavra,
associado ao Umbundo “Ulungundju”, ronco ou urro. Traduz-se como “aquele
de voz rouca”, característica bem típica da manifestação destas
divindades.
Kamungo, Camunga
Inquisse que se esconde, que mora embaixo da terra. Seus fetiches são enterrados e as oferendas colocadas por cima, o que o relaciona aos mortos e aos ancestrais. Em linguagem cifrada os jongueiros chamam “Kamungo” de tambor, em alusão ao orifício do instrumento, onde algo pode se esconder. Há o Nhungue “Kabungu”, o Iaca “Nungo”, o Umbundo “Ochimunga” e Quibundo “Kibunga”, todos significando objetos como chapéus, panelas, baldes, etc, utensílios que identificam algo que cobre. Há ainda a concepção totêmica do rato, animal relacionado, na África aos Njila, assim como o marimbondo e outros, pequenos animais com grande poder de penetração nos lugares. A linguagem cifrada dos velhos feiticeiros velou o significado sagrado deste Inquisse, assim, no Umbundo encontramos a forma diminutiva “Oka-mpuku”, ou “Okamundongo”, rato, camundongo, e ainda, “Mundongo”, como escravo, identificando a função exterior de divindades guardiãs africanas como Exu, Bara e Pambu-Njila.
Inquisse que se esconde, que mora embaixo da terra. Seus fetiches são enterrados e as oferendas colocadas por cima, o que o relaciona aos mortos e aos ancestrais. Em linguagem cifrada os jongueiros chamam “Kamungo” de tambor, em alusão ao orifício do instrumento, onde algo pode se esconder. Há o Nhungue “Kabungu”, o Iaca “Nungo”, o Umbundo “Ochimunga” e Quibundo “Kibunga”, todos significando objetos como chapéus, panelas, baldes, etc, utensílios que identificam algo que cobre. Há ainda a concepção totêmica do rato, animal relacionado, na África aos Njila, assim como o marimbondo e outros, pequenos animais com grande poder de penetração nos lugares. A linguagem cifrada dos velhos feiticeiros velou o significado sagrado deste Inquisse, assim, no Umbundo encontramos a forma diminutiva “Oka-mpuku”, ou “Okamundongo”, rato, camundongo, e ainda, “Mundongo”, como escravo, identificando a função exterior de divindades guardiãs africanas como Exu, Bara e Pambu-Njila.
Jembelu
Classe
de Njilas que recebe a menga do sacrifício: são os Yembêle. Do quicongo
“Mbe”, som onomatopaico de pancada, associado à raiz “Ele”, líquido,
leite, ou algo que escorre, no caso, a menga.
Embarujo
O Inquisse guardião da cura, é quem acompanha Kavungu. Do Umbundo “Uemba”, significando feitiço, veneno e remédio.
Kariapemba
Talvez
por influência católica já em terras africanas, ou talvez mesmo em
Portugal, essa divindade – assim como outras, tais como Nkoce, conforme
veremos – é tida como extremamente maléfica entre os angolanos, havendo a
necessidade de benzer-se o ambiente onde se acredite que ele esteja.
Seu nome, em Quicongo “Nkadi-a-pemba” e em Quibundo “Kádia-Pemba” não
assimila outra tradução que não “demônio”.
Manakó, Manacuco, Mancuco, Mancuce
Invocado
no pade, é quem providencia a comida e a bebida de todos. Benéfico, não
gosta de bebida alcoólica, gosta de branco. É quem dá a fortuna. Há a
relação oculta da fortuna e da bem aventurança com o fato de seu nome
bantu ser, no Quicongo, “Nkusi”, no plural “Bakusi”, traduzindo “o
pescador”. Há ainda “Munkusi” – “Vento que vem do estômago
(flatulência)”, traduzindo o estado de saciedade quando se está farto de
comida.
Toroni Batola, Bute
Do Ronga “Mbuti”, bode, animal geralmente usado em sacrifício a estes Njila.
Quitungueiro
Inquisse
ou espírito da morte, que se apresenta de todas as formas possíveis,
pois não é possível desvencilhar-se dela. Do Quicongo “Kintungu”, tudo
que aparece por inteiro, que se desenvolve e que se mostra de várias
formas. Associa-se o conceito ao Quibundo “Kitungu”, casebre, mausoléu,
ou seja, o lugar onde habitam os que se transformaram: cemitério.
Caracoci
Do
Quicongo “Ekala” homem (quando se refere a alguém que não se conhece),
associado ao Quibundo “Kutxi, Kuxi”, orelha, de onde vem o português
“cochichar”. “Homem que murmura, fala baixo”. Muitas das manifestações
mediúnicas e possessões africanas e no Brasil, estes espíritos se
comunicam dessa forma.
Fonte: http://acervoayom.blogspot.com.br/search/label/Bantu%20-%20Angola%20Congo%20Cabinda%20etc
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